sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Péricles Moraes (1882-1956)
Última foto (1952)
LEIA "COELHO NETO E SUA OBRA", SEU MAIOR LIVRO EM
http://concultura.manaus.am.gov.br/wp-content/uploads/2017/10/Coelho-Neto-e-sua-obra_para_internet.pdf
Os intérpretes da Amazônia
Arriscava-se, talvez, nos dias de hoje, ao perigo de incorrer em falsa afirmativa, quem ousasse dizer, como fez Euclydes da Cainha, nos conceitos de seiva medular inscritos no pórtico do Livro do sr. Alberto Rangel, que a Amazônia, ainda sob o aspecto estritamente físico, apesar de seculares investigações, e conhecida aos fragmentos, e tudo o que se escreve a seu respeito se adstringe aos seus inumeráveis aspectos parcelados. Para descortina-la, em conjunto, a seu vir, teria o espírito humano que se afrontar com entraves e obstáculos intransponíveis, decorrentes de sua aparente uniformidade estrutural, da complexidade de suas mutações geológicas, dos seus imensos horizontes paleontológicos, suscetíveis, na sua desmesurada grandeza e na sua estonteante realidade, de turvar e desnortear as inteligências. De fato, naquela época, a não ‘ser o prosador de Os Sertões, nenhum outro escritor se aventurou à temeridade de tais entrepresas. Pode-se mesmo avançar que os seus estudos sobre a Amazonia, assim nas paginas do Á margem da Historia, como no prefácio magistral do Inferno Verde. são o eixo central de tudo quanto se tem pensado e escrito sobre a região portentosa. Euclydes, com a sua faculdade de ver, compreender e deduzir, tinha ainda a vantagem de possuir uma sensibilidade aguçadissima, que lhe transmitia às imagens as vibrações do temperamento ensofregado. A natureza por ele objetivada, sendo exatamente a mesma que servira lentes dos outros escritores e cientistas,, aparece-nos, entretanto, agitada pelos fluxos e refluxos de uma imaginação .ardente, que poreja sangue e lhe dá a medida, a extensão e a superioridade do espírito. Porque, não há negar, o cientista, isoladamente, fora da temperatura febril do escritor, não obstante a sua visão introspectiva, não teria impressionado dessa maneira. Foi a sua arte de escrever, refletindo-lhe, em lampejos, o trabalho da alma e do cérebro, as fermentações e conflitos interiores, que operou o prodígio. Euclydes via Amazônia com a consciência do artista e a profundeza do cientista, deixando-nos algumas páginas de tão grande fertilidade de observações, que não se pode hoje emitir qualquer opinião neste domínio sem consultar-lhe a autoridade. Mas se foi ele, deveras, o único que conseguiu, em traços vigorosos firmes, projetar, nas suas cores vivas e flagrantes, a natureza amazônica, à sua sombra, à sombra de sua glória, cresceu e frondejou uma floresta de imitadores solertes e subalternos, que lhe tentaram decalcar o estilo indecalcável, a forma e a superfície das idéias, copiando-lhe o vocabulário, reproduzindo-lhe os neologismos, deturpando-lhe as intenções e até, inconscientemente, assimilando-lhe os leves defeitos de composição e de estilística e as imperceptíveis.negligências de técnica. A obra de Euclydes, todavia, triunfou e resistiu galhardamente, conservando-se ilesa, e destinando-se a servir de introdução a qualquer estudo sério que se pretenda realizar sobre o mesmo assunto. Euclydes, com efeito, foi um clássico da Amazônia, clássico enquadrado no definir de Sainte-Beuve - um escritor que se dirige a todos com um estilo seu e que se encontra também em todo mundo, um estilo novo e antigo, contemporâneo de todas as datas. As paginas fragmentárias, que escreveu sobre a Hilae, são, indiscutivelmente, o primeiro monumento que se vislumbra no horizonte literário amazônico. É certo que, muito antes dele, por escritores e investigadores estrangeiros e da nossa raça, outras incursões ,já haviam sido feitas com proveito e resultados frutuosos. Citamos, entre inúmeras, as do amazonense Santana Nery, que escreveu um livro interessantíssimo Le Pays des Amazones, no qual, sobre o problema amazônico, se compendiaram, habilmente discutidas e comentadas, as hipóteses a ensaiar e verificar. Santana Nery conseguiu levantar uma rápida nomenclatura das viagens de exploração feitas no Amazonas, com largos empréstimos ao dr. Severiano da Fonseca (Viagem ao redor do Brasil), a L. Vittel, a Demarquets e outros, analisando todas as particularidades geográficas, geodésicas, climatéricas e geológicas do vale do Amazonas. Para a aquisição fácil e sem esforço dos eruditos de cutiliquê, estão aí coligadas as anotações dos mais destacados exploradores científicos da Amazônia, do astrônomo francês La Condamine, que foi o primeiro, no fim do século XVIII, a abrir para a ciência a província do Amazonas às iniciativas do naturalista alemão Humboldt, que, no começo do Século passado, fez da Amazônia um campo de experiências; às viagens do conde de Castelnau, refertas de informes curiosos sobre os variados aspectos e as diversas produções da região. Alias, não foram diretas as observações que consigna em seu livro. Sobre o solo amazônico, as suas condições climatéricas, a sua constituição geológica, a sua fauna e a sua flora, as suas riquezas ictiológicas, e, sobretudo, as suas lendas maravilhosas, Santana Nery foi buscar dados e subsídios na obra de Barbosa Rodrigues, a quem denomina o “Agassiz brasileiro”, na do engenheiro J.M. da Silva Coutinho, e nos estudos de Alexandre Haag, que foi o primeiro a conceber, antes mesmo de Euclydes, os planos da ligação, por via férea, do Acre com o Madeira. Embora norteado sempre por observações hauridas em fontes estranhas, Santana Nery traçou um vasto panorama da Amazônia, estudando-lhe, de conjunto, o clima e as maravilhas da vegetação luxuriante, a flora e a fauna em suas curiosas particularidades, o fenômeno da produção e a trama de sua bacia hidrográfica, além de explicar-lhe as lendas nativas e estender-se sobre o sentimento religioso dos indígenas. Amparou-se, vezes muitas, nos conceitos e nas informações dos exploradores que o antecederam na inspeção à gleba amazônica. Mas; talvez por isso mesmo, realizou um dos melhores estudos que ainda se fizeram sobre a planície setentrional brasileira. Não lhe foi possível, tal a distensão dos horizontes a perquerir, construir uma obra completa, estudando a região integralmente, de fronteira a fronteira, num exame detido e pessoal de todas as ‘suas proteiformes manifestações geográficas. Sem embargo, os comentários aí expendidos foram tão acertados e judiciosos, que o seu livro tem sido o manancial que vem abastecendo, sem nenhuma responsabilidade, o farnel erudito de inumeráveis escritores especialistas em conhecimentos da Amazônia. A região amazônica, porem, ainda não era conhecida senão de outiva, de informações de segunda mão, através de hipóteses sustentáveis algumas, insustentáveis na sua maioria, formuladas por autores suspeitos e desautorizados, que, simulando uma irrisória atitude científica, repetiam, exaustiva e levianamente, assim os conceitos verdadeiros, como os postulados falsos, as impressões apaixonadas, as teorias abstratas e sofísticas, que nao resistiam ao contato do mais primário dos argumentos. Porque a Amazônia não é assunto para escritores medíocres. O gigantesco caos amazônico, para ser desvendado e compreendido, requer uma divinação quase profética. Não basta o aparelhamento científico. Para compreender, assimilar e exprimir a complexidade de sua natureza, o escritor precisa ser dotado de um talento verdadeiro, auxiliado por todas as fôrças do espírito e da vontade, além de possuir, simultâneamente, a faculdade de perceber, de um lance, as circunstâncias particulares e sensíveis que lhe explicam as influências passadas e presentes. Ademais, cumpre saber fixar-lhe, como um pintor, as transformações fugitivas de seus espetáculos, o efeito dos seus violentos cenários, o mundo de idéias secretas que a vertigem de suas águas e o assombramento de suas florestas despertam em nossa imaginação. Por isso, por ter disposto integralmente de todas essas faculdades, é que Euclydes ainda no foi excedido. Gênio fundamentalmente dedutivo, ele pretendeu com a sua visão de águia, extrair de alguns princípios claros e evidentes, de algumas fórmulas obscuras e dificilmente demonstráveis, o conhecimento de todos os fenômenos amazônicos, vendo na Amazônia o que os outros ainda não tinham conseguido ver.
Já o sr. Alberto Rangel, escrevendo num estylo rigido, inquieto e castigado, onde se encontram, não raro,os relevos violentos e as descargas nervósas do estylo de Euclydes, sem medir as perspectivas cheias de seducções e de perigos que se abriam deante de sua imaginação, viu a Amazonia de outro modo. Sem procurar, como o seu emulo, penetrar-lhe a fundo a estructura physiographica, preferiu descortina-la nos seus aspectos trepidantes, fixando-os num livro de pungente realismo – o Inferno Verde, onde o homem amazonico, submettido á crueldade do proprio destino, e a terra fantastica, nos seus painéis allucinatorios, são vistos através da idealização excitada de um rebellado temperamento de escriptor. Tinha razão, neste particular, Euclydes da Cunha, em face da estrutura desse livro, quando declarava que a Amazonia era conhecida apenas aos fragmentos, sob aspectos numerósos mas parcellados, em traços fórtes mas desconnexos, sem ser jámais visionada de conjuncto, porque " a intelligencia humana não supportaria, de improviso, o peso daquella realidade portentosa". Alberto Rangel, tentando delineá-la, não tinha illusões, convencido de que a tragedia amazonica ainda estava por ser escripta. Não apparecera ainda, de verdade, o poeta, que a um tempo tivesse o cabedal do scientista, a visão do sabio e a penetração do homem de genio, capaz de plasmar o poema immortal de suas peripecias gigantescas, numa obra-prima do espirito, onde transverberassem os coloridos de um Michelet ou de um Saint-Victor. O espectaculo surprehendente de suas metamorphóses telluricas não se amoldava aos descortinadores de horizontes restrictos. Para vêr a Amazonia e interpretá-la, era necessario uma imaginação creadora, que traduzisse em linhas convulsivas, a epopéa do homem, na luta angustiada e tenaz contra os imprevistos da natureza, desafiando a aggressividade dos elementos physicos que o circundam, surprehendendo a vida e a alma das florestas, emparedado nos seus desvãos solitarios, pontilhados de trechos sombrios, "onde se diria na expressão de Alberto Rangel - que se accendem candelabros para uma festa de duendes". Fixar os lances dramaticos do homem e da terra amazonicos, onde a variedade dos aspectos se confunde e se altera em transmutações bruscas e inopinadas, fazendo sossobrar todos os artifícios da logica e da razão, e onde, para cada um delles, a intensidade de impressões e a dependencia das idéas e das emoções variam de conformidade com a estructura intellectual do observador, não era empreitada para intelligencias tardigradas e marasmaticas. Era obra para os artistas de élite, capazes de exprimir, num traço fulgurante e revelador, a violencia de suas sensações e o fremito das emoções que lhes abalam o systema nervoso. Não tem sido outra, por taes motivos, a causa do insuccesso de não poucos escriptores que se têm arriscado a buscar na Amazonia a thése e o desenvolvimento de suas digressões espirituaes. Dir-se-ia que a grandeza do modelo lhes opprime e atordôa a concepção. Eriçada de impropriedades, tumultuaria de lances emphaticos, desbordante de imagens excessivas e incoherentes, congestionada de narrações prosaicas e de afflictiva monotonia, que lhe accusam a erudição superficial e discursiva, a obra resente-se, desde logo, das fraquezas e debilidades do escriptor, apresentando uma Amazonia absurda, falsa e mystificada,erigida sob os auspicios da observação de outros escriptores e, por conseguinte, sem o cunho da visada pessoal, que. imprimiria, pelo menos, o caracter de authenticidade a certas invenções porventura mais fantasiósas. Seja como fôr, se até hoje ainda não exsurgiu, por encanto, o menestrel que lhe eternizasse as glorias, muitos escriptores do nosso tempo e da nossa raça, tomando-a como fonte de inspiração e pesquisando-a em determinados aspectos, trouxeram, do seu contacto com a natureza e com o homem, impressões originaes, traduzi das em paginas de indiscutivel mestria.
Veja-se, por exemplo, o livro Terra Immatura, de Alfredo Ladislau. No conciliar os surtos da imaginação com as exigencias do espirito especulativo, o escriptor preferiu vêr o lado plastico da Amazonia, modelando-a em desenhos flexuósos, sem mutilar a realidade, e descobrindo-lhe as fórmas estheticas e luminósas, ao geito de La Sizeranne. Construindo um livro que é uma verdadeira introducção ao estudo da natureza amazonica, ou melhor ainda, que é uma preparação espiritual, um roteiro admiravel para quem deseje tentar uma incursão á selva selvaggia maravilhósa,
Alfredo Ladislau em impressivas aguas-fortes, desenvolve a ondulante perspectiva do panorama amazonico, nos seus contornos desordenados e nas sombrias tragedias que lhe convulsionam as forças cosmologicas. É uma Amazonia feita de claridades solares, em periodos esculpturaes, onde resplende a "vis superba formae" do poeta latino. Mas, cumpre accentuar, é tambem uma obra de pensamento e de emoção, onde por entre os lavores de uma arte de luxuósas incrustações, estão perfeitamente equilibrados a sensibilidade do artista e o raciocinio, a logica, a pureza e a concisão do escriptor. É evidente que, sobre o espirito de Alfredo Ladislau, o prosadpr épico d' Os Sertões exerceu aquella indominavel influencia, aquella poderosa attracção que subjuga e perturba a quantos lhe sintam o fascinio ineludavel. Mas, tambem, é fóra de duvida que essa influencia não foi de molde a diminuir-lhe o prestigio das idéas e a sagacidade das observações. Porque o livro da Terra Immatura, escripto com aquella excessiva pujança verbal e intensidade de expressão que eram o traço caracteristico do estilo envolvente de Euclides, não impressiona apenas pelo esplendor da fórma e pelos ademanes da linguagem. O descortino visual do escriptor, estabelecendo pontos de vista novos e defendendo-os com desassombro, esclarecendo certos phenomenos e procurando explicar-lhes os effeitos e as causas, por sua vez contribuiu e preponderou para que, das varias e multiplas suggestões de um mundo estranho, resultasse um sistema de idéas geraes, que lhe denunciam a efficiencia da cultura. Cada capitulo desse livro é o conspecto isolado de trechos esparsos da vida amazonica. Traço a traço, dominado pela idéa de lhes dar a phisionomia verdadeira, o artista sobrepõe-se ao escriptor, imprimindo ás télas pinceladas vigorósas que lhe definem o talento descriptivo. Ha ahi paginas soberbas, dignas de Euclides. Mas, de quando em quando, embora não se tenha o espirito prevenido, sente-se-lhe a affinidade com outros escriptores da Amazonia, a reminiscencia viva de impressões alheias que lhe ficaram na memoria e reapparecem, subrepticiamente, accusando-Ihe a genese da concepção. Quem não descobre, desde logo, verbi gratia, que essas paginas lapidares da Psychologia dos lagos foram inspiradas na leitura do Tapará, de AIberto Rangel? A certos aspectos, a mesma semelhança de relevo e de tonalidades, na pintura do quadro amazonico, se identifica no estilo de ambos. Ainda mais. Os conceitos sobre os factores geographicos observados para as formações hidrographicas dos lagos são analogos, como é analoga a supposição, analisada com a logica de raciocinios equivalentes, de que no lago amazonico a crendice aborigene encontrou a fonte das lendas e das creações fantasticas que lhe alimentam o fabulario. Aliás, o autor do Inferno Verde, a inferir-se da legenda que lhe emmoldura o trabalho parece ter ido buscar, por sua vez, subsidios na obra do padre João Daniel.....
(Legendas & aguas-fortes, Manaos, Livraria Clássica, 1935)
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A tristeza de Maupassant
Quando os meus olhos maravilhados voltaram a ultima pagina dessa obra imperecivel, de realismo puro, que é para as lettras de França como um padrão excepcional de justeza e limpidez de estylo, o que me ficou dessa arte rigorosamente objectiva, feita de sobriedade e precisão absoluta de observações, foi um impressionante sentimento de tristeza, tristeza dolorosa e commovida que se impregnou como perfume atordoante através de todas essas paginas vividas intensamente. É o accento predominante que a cada passo nos revela profundas ansias mysteriosas. Tem-se a sensação de que a alma do artista, sob o pendor de influencias exteriores, está penetrada de intimos dilaceramentos, involuntariamente revelados, deixando-nos á visão compungida os acúleos de uma dôr que ninguem soube comprehender. O estylo do escriptor, claro e vigoroso, projecta saúde e força, sobretudo saúde mental, productiva e fecunda; e a sua observação, pela maneira impessoal de vêr, dá-nos a completa illusão da vida. Reflectindo-a com impassibilidade, dos aspectos que reproduz e das sensações que fixou, como se a vida fôsse um poema de melancolias, faz ressaltar, de pagina em pagina, um claro-escuro de amarissima tristeza, que é sombra a encher de brumas paisagens claras e illuminadas, que é fluido a diffundir-se dolorosamente, empolgando o sentimento de seus retratos. Entretanto, jamais houve quem a pintasse, embora através de um temperamento morbido, com maior fidelidade e exactidão. Ninguem a comprehendeu melhor nas suas tumultuarias modalidades, nas suas transições sombrias, na sua tragedia de todos os momentos. As suas paixões, as suas intrigas, os seus aviltamentos, os seus pequeninos interesses, as suas felonias, o entrechóque de caracteres heteróclitos, a lucta de competiçoes, o lastro de aventuras de que a vida é capaz, o seu pincel reproduziu na violencia de ardentes perspectivas. Toda a sua obra é um assombroso espectaculo d'apres 'nature. A sua retina de artista não visava a ficção, desde que a ficção é irreal e lhe desmaiava a intensidade dos coloridos. As personagens que se agitaram ao influxo de sua dominação, as mulheres que viveram nos seus romances, os contornos e os aspectos que os requintes de sua visualidade focou, pela serena indifferença e pela tranquilla verdade com que foram representados, são a propria vida na sua imperturbavel realidade. A novella, delineada pelo seu pulso de mestre, é episodio flagrante que dá a lembrar uma pagina que já vivemos; o seu conto é um lance imprevisto que o artista viu e sentiu; o romance de Maupassant é sempre o vagalhão da vida que se despenha sobre uma alma. Se, por vezes, os seus heróes e as suas paixões, se animam de um desdem interior que lhas imprime o ressaibo de imperceptivel ironia, é que os seus sentimentos não foram photographados de aspectos alheios, senão da, propria vida do escriptor que, na sua obra, se reproduz com a regularidade de movimentos isóchronos. Não é difficil para quem lhe conhece a biographia, tanto esquadrinhada pelas memorias, correspondencias e estudos, surprehender essas affinidades muito intimas de que a pintura é cópia, realizada na febre das auto-sensações. A sua querida Normandia, no pinturesco de facetas encantadoras, com os seus camponios rudes e os seus ingênuos pescadores, a sua paisagem ensolarada de verão, risonha e gorgeiante, Etrétat e Fecamp, e os rochedos de Yport, vivem na maioria de suas novellas, resplendem, evocativos, nas paginas do Une vie, livro de amarga tristeza, odysséa atormentada de mulher que se resigna aos desregramentos do marido e ás ingratidões do filho. Os dias estuosos de sua mocidade, a sua paixão pelo mar, as confidencias desse tempo, as suas façanhas de canotier destemido, o seu devotamento á cultura physica -.- « fazendo para seu prazer vinte leguas do Sena em um dia) --, recorda-os o romancista nos periodos da Mouche, novella de saudades e reminiscencias. Quem não sente no L'Heritage um episodio de sua vida, quando humilde empregado do Ministerio da Marinha? Bel-Ami é o turbilhão do jornal, os primeiros passos do grande artista no ambiente de dissimulaçóes e adulterios da sociedade parisiense, a lucta pela conquista, a ansia de renome, a caça do dinheiro e do goso através da astucia das Madeleine Forestier e dentro da seducção de irresistiveis depravadas como Mme. de Marelle. De sua ascenção á montanha ficou, palpitante de emoção, o Mont-Oriol. As suas viagens ás costas italianas, á Sicilia, á Argelia, a Tunis, a Veneza, são referidas com encanto voluptuoso na Vie errante. Os seus cruzeiros no Mediterraneo, a bordo do seu lindo yacht Bel-Ami, estão descriptos no Sur l'eau, livro de memorias de um deleite superexcitante. A sua passagem pela Italia é relembrada na novella emotiva das Soeurs Rondoli. O seu baptismo nos meios viciados e corruptores foi Yvette. O seu romance Fort comme la mort reflecte-lhe o percurso nos circulos mundanos, e a tristeza de envelhecer, encarnada no desespero do pintor Bertin. Vem depois Notre coeur, a obra-prima de suas obras-primas, onde Gaston Lamarthe, (Anatole France surprehendeu, traço a traço, nesse implacavel homem de lettras o retrato authentico de Maupassant) sob a tormenta de uma paixão despotica por essa col1eante Michéle de Burne, foge á tentação, mergulha no silencio bucolico de Fontaineblau, succumbe nos braços da creada, uma camponeza jovem e ardente, e enfarado desse banho epicurista em plena selva, é attrahido novamente pelo feitiço colubrino da mundana.
Tal é, integralmente, a sua feição de artista. Fóra disso, através das outras paginas estranhas á sua vida, os vicios, os pecados. as depressões intimas e exteriores de uma sociedade em deliquescencia, foram photographados ao vivo com a maestria de um talento que se não commovia com a miséria ambiente para que, isenta de preferencias e pela observação sincera, a prova tivesse propriedade e expressão, conferindo com o original.
Essas qualidades impessoaes eram o traço luminoso do seu temperamento de artista. Faguet affirmou que o autor da Madame Bovary fez a theoria da arte impessoal e Maupassant realizou-a. É incontestavel. Discipulo de Flaubert, imitando-lhe os processos de execução e orientado pelas suas modernas concepções de arte, Maupassant, torturado no seu sonho de belleza, attingiu essa paridade de estylo e de fórma que, no solitario Croisset, era o segredo da composição. Mas penetrante a diferença na esthetica dos dois grandes mestres da prosa franceza! Se Flaubert não acreditava na impessoalidade absoluta e julgava que todo o artista era susceptivel de ceder ás sollicitações do sentido individual, a arte de Maupassant não tinha outro escopo senão o de representar. As suas altas faculdades intellectuaes, na creação da obra d'arte, restringiam-se a gravar as sençações da vida com a nitidez de uma placá photographica. A contemplação e representação eram os preceitos essenciaes na esthetica flaribertiana. Viver, - tal era o dogma de Maupassant. O artista, seleccionador de bellezas, devia sentir, palpitar, agitar-se dentro de suas personagens, indifferente ás suggestões inferiores da sentimentalidade, presumido contra os impulsos do coração.
O realismo de Flaubert revivia a antiguidade com a sua maneira pessoal de vêr, desvirtuando-a, adaptando-a ás exigencias do romance moderno. Maupassant, enclausurado na sua arte, era inflexive1. O seu instincto da realidade não se deformava nem se corrompia. A vida era o typo humano, ornamentado de virtudes ou achacado de taras, extasiante de belleza ou formidavel na sua hediondez. Maupassant era isso: «O eterno pintor da careta humana.»
(In FIGURAS & SENSAÇÕES, Porto, L. Chardron, 1923)
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Heliodoro Balbi
Grande Balbi!
A ultima vez que o vi, acompanhando-o por toda a parte até dizer-lhe o derradeiro adeus (e nunca me surprehendeu o presentimento tragico de ser esse o ultimo !) foi no dia da partida. A viagem era definitiva. Ninguem o demovera. Seguia resoluto para o paiz da illusão e da perfidia, tangido por compromissos inadiaveis, levado pela angustia de uma posição insustentavel, desprovido de recursos, na imminencia de affrontosas humilhaç,ões. Pouco lhe importava partir abandonando a esposa, filhos, amigos, posição, proventos futuros que nunca chegariam, sacrificado á sanha dos revézes politicos. Coragem lhe não faltava para novas luctas, nem se sentia abatido pela amargura da contingencia. Denorteava-o, confrangendo-o, esse ambiente pesado de oppressões moraes de toda sorte, que o asphixiava, que lhe tirava a alegria de viver, compellindo-o à aventura, sem temer-lhe as consequencias. Mas, nessa noite de inquietações e de pezares, o que minava essa alma intrépida que jamais na vida se arreceiara dos perigos do embate, era a dolorosa certeza de partir, com rumo incerto e destino ignorado, e nunca mais vêr, nunca mais! a companheira abençoada de tantos annos de felicidade e de infortunio, a dôce companheira que compartilhára com elle as alternativas da fortuna mendaz, estuante e feliz, nos dias ensolarados do triumpho, e apertando-o ao peito, commovida e soluçante, á amarugem da desdita. . . Essa, que foi a mais amada de todas as mulheres, ahi se ficava, sem poder seguil-o ainda uma vez, lancinada no seu abandono, e presa ao leito, immobilisada, errante na sua dôr, livorescida na sua agonia, corroida pela enfermidade terrivel que dias depois lhe fechou os olhos. Era a perspectiva desse transe que o combalia, desarvorando-o; e, quando á noite, taciturnos, regressavamos á casa, a tortura de vêl-a de novo e ter que partir, retardava-lhe os passos. Vi-o á porta, cambaleante, vencido, os olhos marejados de lagrimas.
- Ah ! meu vélho, que horrivel provação! É a peior hora da minha vida. . .
Entrámos silenciosos. Vi-a de longe, no seu leito de morte, os olhos parados e cheios de angustia, as faces lividas, um sorriso doloroso esvoaçando dos labios desmaiados... As eternas oscillações da alma!
Não quiz ver o resto. Fugi. Fui esperal-o no largo, em frente á egreja, olhando a bahia deserta.
No céo, lavado de bistre, palpitavam as primeiras estrellas. Minutos depois vi que voltava, espectral, sombrio no seu mudo desespero, as pernas tropegas, sem poder articular palavra.
Olhei-o, commovido. Apertei-o com força em meus braços. Tentei consolal-o. Murmurou-me ao ouvido, com voz embargada:
- Tu não imaginas a minha angustia! Acabo de abraçar um cadaver . . .
Chorava convulsivamente.
Só então reparei que eu tambem tinha os olhos arrazados d'agua.
(In FIGURAS & SENSAÇÕES, Porto, L. Chardron, 1923)
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"Pericles Moraes foi figura de destaque na
vida intelectual amazonense. E não apenas na vida
intelectual. Teve participação também na vida pública.
Foi, em 1926, prefeito de Coari e Parintins; em 1932
integrou o Conselho Consultivo do Governo estadual e
foi Secretário-Geral do Estado em dois governos.
Na obra póstuma, Pericles Moraes destaca o relevante
papel que sua esposa, Andrômaca, desempenhou
em sua atividade literária. Ela tinha, como ele, amor às
letras e foi incansável companheira de estudos.
Registro aqui os parabéns à acadêmica Carmen,
por haver organizado essa obra póstuma e agradecimentos
pela gentileza de ter-me agraciado com um
exemplar. Pela sua contribuição à cultura do Amazonas,
estou encaminhando à mesa requerimento de
voto de aplauso.
Era o que tinha a dizer.
Muito obrigado.
SENADOR JEFERSON PERES
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Meu arquivo está cheio das lembranças de Leopoldo Peres. Não obstante vivermos sempre juntos, no Amazonas, durante a sua vida inteira, entre as correspondências que conservo dos amigos mortos, a maior é a sua. Epistolas enternecidas de um Damon que falasse a sensibilidade de Pynthias, referentes as épocas em que, a contragosto, em¬bora temporariamente, motivos ponderosos nos obrigavam a abandonar a cidade do nosso enlevo. Minhas estantes guardam dezenas e dezenas de livros, em encadernaçoes de luxo, do mais requintado acabamento, que por ele, por qualquer pretexto e sem nenhum pretexto, me eram presenteados, nos quais as dedicatórias transbordantes de afeto se revezavam de volume para volume. Sobretudo, no silencio do meu gabinete de trabalho, atraves de preciosos objetos de arte, estão os traços marcantes da nossa amizade indestrutivel, que perdurou ate a morte. São bronzes simbólicos, jarrões, estatuetas, baixos-relevos, paisagens a ó1eo de pin¬tores celebres, caricaturas autenticas de Caran d' Ache e de Govarni, silhuetas a coups de crayon de desenhistas de reputaçao universal, obras-primas em biscuit de Limoges, como essa das "Tres Graças", concepção estatutária de incomparável recorte, que ele adquirira para nos galantear no dia comemorativo das bodas de prata do meu casal. Havia também uma deliciosa Joueuse de diaule, nas linhas flexíveis de sua correção plástica, em socie de alabastro, ivre de beauté, um surto original do genio helenico. Na galeria de honra, entre as fotografias do meu querido Augusto Linhares e do magnífico Jose de Figueiredo Lobo, figura espartana de soldado e de homem de letras, encaixado em moldura oval incrustada de ouro, adornado de duas palavras de infinita simpatia espiritual, o retrato desse prodigioso definidor de almas, na magnificência dos seus trinta anos gloriosos...
(LEOPOLDO PERES, apud LINS. Seleta literária do Amazonas)
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PÉRICLES MORAES, filho de Severo Jose de Moraes e de Evarista de Melo Moraes, nasceu, em Manaus, no dia 28 de abril de 1882. Fez os estudos primarios em sua terra natal e o secundário em Belem.
Foi professor, jornalista e serventuário de Justiça. Pertenceu à Academia Amazonense de Letras e à Associações Amazo¬nense e Brasileira de Imprensa. Era membro correspondente das Academias de Letras do Para e da Bahia, da Associaçao Brasileira de Escritores e Honorario da Sociedade de Geografia e História do Ceara. Faleceu, precisamente, às 3,30 horas do dia 26 de setembro de 1956.
Obras:
"Figuras e Sensaçoes", Porto, 1923; "Coelho Neto e Sua Obra", Porto, 1926;
"Vida Luminosa de Araujo Filho", Manaus, 1931; "Legendas e- Aguas Fortes", Manaus, 1935; "Confidências Literarias", Rio, 1944; e "Leopoldo Peres", Manaus, 1952.
(LINS)
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Péricles Moraes
Por Roberio Braga
Não comporta a Série Memória, um estudo sobre a vida ou a obra de Péricles Moraes, pois que, destinando-se aos estudantes mais que aos estudiosos mais aprofundados na vida literária brasileira, destina-se a textos didáticos e informativos. Assim é que, nossa contribuição ao ensejo do primeiro centénário de seu nascimento, para essa publicação tão oportuna, traduz-se pelo sentido prático da informação biográfica mais sintética com o intuito de motivar que a geração de agora desperte para estudar e procurar compreender a dimensão exata de uma das maiores expressões literárias de todos os tempos na Amazônia que foi Péricles Moraes.
Amazonense de Manaus, era filho do político Severo José de Moraes e D. Evarista Mello Moraes, tendo feito seus primeiros estudos em Manaus e os chamados de Humanidades, em Belém do Pará.
Professor, Jornalista, Político, Escritor, Acadêmico, foi estilista por excelência.
Professor da Língua e da Literatura Francesa, categorizou-se como Mestre de várias gerações em Manaus.
Na vida pública, foi Prefeito Municipal de Coari e de Parintins, em 1926, membro do Conselho Consultivo do Estado em 1932, Diretor Geral da Instrução Pública em 1934, hoje cargo correspondente ao de Secretário de Estado da Educação e Cultura, Secretário Geral do Estado no Governo do Desembargador Estanislau Afonso em 1945, e novamente na administração do Dr. Leopoldo Amorim da Silva Neves de 1947 a 1950. Fundador, em Belém, do “Apostolado Cruz e Souza”, e em Manaus, da “Sociedade de Homens e Letras”, depois transformada em Academia Amazonense de Letras, em 1918.
Como Jornalista, contribuiu intensamente na imprensa diária, em jornais e revistas sempre com artigos que refletiam vasto conteúdo e beleza de forma e essência. Colaborou em “O Amazonas”, “O Jornal”, “O Jornal do Comércio”, “O Libertador”, “A Gazeta da Tarde”, “A Tarde”, o ‘Diário da Tarde”, órgão da imprensa amazonense e em a “Folha do Norte”, e “A Província do Pará”, de Belém. Escreveu ainda para as revistas “Cabocla”, “Redempção”, editadas em Manaus.
Em sua vasta e seleta biblioteca foram encontradas obras diversas com dedicatória ao mesmo tempo carinhosa e de reconhecimento aos seus dotes intelectuais, gravadas por personalidades várias das letras universais. Para informação, destacamos dentre as diversas divulgadas na Revista da Academia, as seguintes:
“Faço deste livro, saído agora do prelo, o portador dos meus louvores e de muitos agradecimentos ao caprichoso artista d’OBUFÃO, pela dedicatória de tal jóia ao meu nome, que desejo seja tido, de hoje por diante, por quem tanto o honrou, como de amigo e admirador”. COELHO NETO (O Turbilhão)
“Ao muito brilhante, ao Artista Péricles Moraes, a admiração de MARTINS FONTES” (Boêmia Galante)
“Ao incomparável estilista Péricles Moraes, com a admiração e o afeto do menor de seus discipulos VIANA MOOG” (Heróis da Decadência).
“A Péricles Moraes, o eminentíssimo crítico e alto espírito oferece o seu admirador AQUILINO RIBEIRO” (Luis de Camões, fabuloso e verdadeiro).
Dentre os amazônidas, embora muitos se tenham ocupado de sua cultura e conformação intelectual, especialmente os membros da Academia Amazonense de Letras, extraí da mesma fonte, para ilustração estudantil, a opinião que expenderam em dedicatórias de suas próprias obras.
“A Péricles Moraes, escritor que honra o Brasil e a Língua Portuguesa, com a permanente admiração de ÁLVARO MAIA” (Gente de Seringais).
“A Péricles Moraes, luminoso escritor e consumado esteta com um grande abraço do seu velho amigo JOÃO LEDA” (Vocabulário de Ruy Barbosa, 2ª. edição).
“Ao querido mestre e amigo Péricles Moraes - esta homenagem de muita admiração ao homem que é a maior contribuição da Amazônia à cultura e à inteligência brasileira de DJALMA BATISTA” (José Bonifácio).
“Ao Péricles - augusto espírito imortal - a flama entusiasmada do RAMAYANA DE CHEVALIER” (Ensaio de uma Parapsicologia da Amazônia).
De profunda intimidade com as obras e luminosas letras, foi familiarmente do convívio amigo de várias escritores de grande renome nacional como Coelho Neto, Hermann Lima, Josué Montello, Rogaciano Leite, Oswaldo Orico, Viana Moog, Martins Fontes, Peregrino Júnior, além de muitos outros de expressão internacional, como Fidelino de Figueiredo e todos os amazônidas de seu tempo.
Autor de várias obras, deixou nas revistas então editadas em Manaus contribuições que merecem uma edição em coletânea, das quais podemos destacar, apenas para informação: “Em louvor de Adriano Jorge” - Cabocla, agôsto de 1937; “Anatole, Semeador de Dúvidas” - Redempção, 1924; “Um Artista Clássico” - Redempção, março/abril 1925; “Grandeza e Decadência de D.Juan” - Redempção, maio de 1925.
Fundador da Academia Amazonense de Letras foi também seu Presidente por vários anos, compunha além de compor os quadros literários das Associações Amazonense e Brasileira de Escritores e foi membro Honorário da Sociedade de Geografia e História do Ceará.
Em reconhecimento a sua cultura e dedicação à Casa, a Academia Amazonense de Letras fez publicar uma edição de sua Revista, Comemorativa ao Jubileu Literário, em agosto de 1956 que se constitui em fonte preciosa para o conhecimento mais amplo da vida significativa e da obra majestosa do escritor que foi Péricles Moraes.
Fontes:
1. BITTENCOURT, Agnello. Dicionário Amazonense de Biografias. Rio de Janeiro, Conquista, 1973. p. 408-11.
2. . ROCQUE, Carlos. Grande Enciclopédia da Amazônia. Pref. de Arthur Cézar Ferreira Reis. Belém, Amel Ed., 1968 O Acadêmico.
Ocupante e fundador da cadeira patrocinada por Gonzaga Duque na Academia Amazonense de Letras, a de nº. 13 da Fundação, foi depois alçada a de nº.1, com a mesma denominação, transformada com sua morte em Poltrona Péricles Moraes, a seguir ocupada por Cosme Ferreira Filho, eleito juntamente com João Nogueira da Mata, José Lindoso, Almeida Barroso, João Crysóstomo, a 4 de novembro de 1959.
Dentre as suas contribuições na Revista da Academia, podemos destacar "Um inovador da crítica literária Benjamin Lima", In número especial, fev. de 1935; "Legenda heroíca de uma vida dedicada a Adriano Jorge": In fev. 1955; "Carlos Parros",n.4, dez.de 1955.
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