sexta-feira, 4 de março de 2011
MARX 4
TESES SOBRE FEUERBACH
Versão original do manuscrito elaborado por Marx em 1845, que expõe pela
primeira vez uma concepção radicalmente nova do universo: a teoria da praxis
revolucionária.
Karl Marx
1
O principal defeito de todo materialismo até aqui (incluido o de Feuerbach)
consiste em que o objeto, a realidade, a sensibilidade, só é apreendido sob a
forma de objeto ou de intuição, mas não como atividade humana sensível, como
praxis, não subjetivamente. Eis porque, em oposição ao materialismo, o aspecto
ativo foi desenvolvido de maneira abstrata pelo idealismo, que, naturalmente,
desconhece a atividade real, sensível, como tal. Feuerbach quer obje tos
sensíveis - realmente distintos dos objetos do pensamento: mas não apreende a
própria atividade hu mana como atividade objetiva. Por isso, em A Essência do
Cristianismo, considera apenas o comportamento teórico como o autenticamente
humano, enquanto que a praxis só é apreciada e fixada em sua forma fenomênica
utilitária e suja. Eis porque não compreende a importância da atividade
"revolucionária", "prático-crítica".
2
A questão de saber se cabe ao pensamento humano uma verdade objetiva não é uma
questão teórica, mas prática. É na praxis que o homem deve demonstrar a verdade,
isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensamento. A disputa
sobre a rea lidade ou não-realidade do pensamento isolado da praxis - é uma
questão puramente escolástica.
3
A doutrina materialista sobre a alteração das circunstâncias e da educação
esquece que as circunstâncias são alteradas pelos homens e que o próprio
educador deve ser educado. Ela deve, por isso, separar a sociedade em duas
partes - uma das quais é colocada acima da sociedade. A coincidência da
modificação das circunstâncias com a atividade humana ou alteração de si próprio
só pode ser apreendida e compreendida racionalmente como praxis revolucionária.
4
Feuerbach parte do fato da auto-alienação religiosa, da duplicação do mundo em
religioso e terreno. Seu trabalho consiste em dissolver o mundo religioso em seu
fundamento terreno. Mas o fato de que este fundamento se eleve de si mesmo e se
fixe nas nuvens como um reino autônomo, só pode ser explicado pelo
autodilaceramento e pela autocontradição desse fundamento terreno. Este deve,
pois, em si mesmo, tanto ser compreendido em sua contradição, como revolucionado
praticamente. Assim, por exemplo, uma vez descoberto que a família terrestre é o
segredo da sa grada família, é a primeira que deve ser teórica e praticamente
aniquilada.
5
Feuerbach, não satisfeito com o pensamento abstrato, quer a intuição; mas não
apreende a sensibilidade como atividade prática, humano-sensível.
6
Feuerbach dissolve a essência religiosa na essência humana. Mas a essência
humana não é uma abstração inerente ao indivíduo singular. Em sua realidade, é o
conjunto das relaçôes sociais.
Feuerbach, que não empreende a crítica dessa essência real, é por isso forçado:
1. a abstrair o curso da história e a fixar o sentimento religioso como algo
para-si, e a pressupor um indivíduo humano abstrato, isolado.
2. Por isso, a essência só pode ser apreendida como "gênero", como generalidade
interna, muda, que liga de modo natural os múltiplos indivíduos.
7
Por isso, Feuerbach não vê que o próprio "sentimento religioso" é um produto
social e que o indivíduo abstrato por ele analisado pertence a uma forma
determinada de sociedade.
8
Toda vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que levam a teoria
para o misticismo encontram sua solução racional na praxis humana e na
compreensão dessa praxis.
9
O extremo a que chega o materialismo intuitivo, isto é, o materialismo que náo
apreende a sensibilidade como atividade prática, é a intuição dos indivíduos
singulares e da sociedade civil.
10
O ponto de vista do velho materialismo é a sociedade civil; o ponto de visto do
novo é a sociedade humana ou a humanidade social.
11
Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; o que
importa é transformá-lo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário