sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

ROGEL SAMUEL: BREVE MANUAL DE DIDÁTICA GERAL


ROGEL SAMUEL: BREVE MANUAL DE DIDÁTICA GERAL


Por que a didática geral?

Depois de aposentado – esta palavra soa sempre muito estranha – pude fazer uma longa e calma reflexão sobre minha vida como professor auxiliar de ensino de didática geral na Faculdade de Educação da UFRJ, na década de 60.

Reli as anotações, revi os primeiros planos de aula. Lembrei-me das lições dos meus grandes mestres: Anísio Teixeira, o professor de Filosofia da Educação (recebia palmas no fim da aula); Luiz Alves de Mattos, nosso catedrático, mente clara, precisa, organizado; e de tantos outros, de outras matérias, como Alceu amoroso Lima, Celso Cunha, Matoso Câmara.

O que vi é que ainda está aberta, para mim, a questão do ensinar, do saber ensinar. Não apenas do saber como do fazer, as técnicas, as questões, os objetivos.

Que lições daqueles grandes mestres ainda permanecem vivas?

Não sei, nem posso responder.

Uma questão global. Atual.

O magistério agora dispõe de novas tecnologias, como o computador, a Internet. Naquele tempo nem com a TV se podia contar.

E porque ensinar e aprender? Para quê, para quem? Como fazer? Até que ponto as questões do professor em sala de aula se podem genericamente responder? Como ajudar a um jovem professor/a iniciante a começar o seu magistério?

Isto é a Didática Geral.

Que significa isso, essa ciência, ou essa arte, ou essa técnica?

Partimos do postulado de que é preciso aprender a fazer, ou o professor vai aprendendo com o tempo, mas com seus erros. Ou se acostuma a errar, e não mais aprende. Os erros da sala de aula infernizam a vida dos mestres, põem mestre e aluno em luta um contra o outro. Os professores se estressam, mudam de profissão, ou morrem. Ouvimos muito isso: professores que dizem que “hoje” é impossível trabalhar.

Mas é possível aprender a oferecer uma aula para jovens e irrequietos alunos da periferia?

O pior problema, além da baixa remuneração, é a relação numérica professor/aluno. Um professor com centenas de alunos não pode dar certo.

Porém a Didática Geral ensina a não cometer certos erros capitais e oferece algumas normas para evitar os erros triviais.

O magistério é uma das profissões mais difíceis e mais necessárias. A remuneração precária, o número excessivo de alunos em sala de aula, a violência da sociedade transferindo-se para o ambiente letivo, são só alguns dos problemas.

O magistério é, entretanto, uma arte, uma arte fina, extraordinária. E se pode aprender a fazer.

Nada substitui a viva voz do professor, o diálogo com ele, sua presença.

Ensinar a ensinar, eis o que faz a Didática Geral.

Mas “sábio não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”, escreveu Guimarães Rosa.





Ensinar e aprender

Cabe ao professor fazer eclodir no aluno o mistério do aprender ou parte do educando o início desse processo? Que é aprender? Se não quiser o aluno não aprende. Temos primeiramente de motivar o aluno a aprender.

Ora, aprender é tornar-se maior do que o fato apreendido. Além disso, é incorporá-lo, fazê-lo seu, parte de sua consciência, de seu ser.

Disse Alceu Amoroso Lima em sala de aula: “cultura é aquilo que esquecemos, mas é incorporado à nossa consciência”. Ele falava da “cultura” brasileira, mas podemos dizer que reside aí o fato do aprender: aquilo que, por mais que o “esqueçamos”, não poderemos esquecer jamais, pois já está incorporado ao nosso sistema, àquilo que nós somos e nos é. É uma “linguagem”, nos toma, somos e usamos.

Ou não? Será que, como nos antigos, o papel (e uso esta palavra com cuidado) do professor é fazer os alunos lembrarem-se do que já sabiam?

Não, não vou aprofundar essas complexas questões, pois meu objetivo aqui é ser simples e prático.

Ou seja: não precisamos saber o que é aprender, mas como isto é possível.

Aprender é liberdade, é libertar-se de uma incapacidade, de um problema, de uma obscuridade.

Quando aprendemos perdemos o medo daquilo de que não sabíamos, do desconhecido, da desconhecida ameaça. Há uma doença? Quando aprendemos como tratá-la logo deixamos de temê-la. Há uma crise? Quando compreendemos como e por que ela rebentou logo já começamos a saber como interagir com ela.

Quando fazemos alguma pergunta, quando colocamos alguma questão, é porque o processo profundo da resposta já está em andamento.

Quando perguntamos, já sabemos.

O professor ideal, se existe, seria aquele que ajudasse os seus alunos a libertarem-se de si mesmos, a serem livres de seus problemas internos.

Mas isso é outra história, porque que o “sistema” sempre nos impôs que preparássemos os jovens para a obediência, a ordem, o progresso.

Jovens livres são perigosos.

Mas não agressivos, violentos.

A minha geração, por exemplo, vivia de “paz e amor”. Jovens “rebeldes” não estão livres, estão presos à rebeldia de sua violência e maldade, ao calor de suas agressividades.

Quem é livre não agride ninguém.

Quem é livre é feliz.

Assim, a formação do professor é algo complexo, muito complexo.

Não me interprete erradamente. A educação é uma revolução.

Se tivermos toda uma geração de bons professores, bem preparados e bem remunerados, teremos uma nova era, um país diferente.

É o que faz o bom professor: ele muda o futuro.






A formação do professor

É complexa a sua formação. Não vamos aprofundar, mas daremos algumas pistas.

O professor é um técnico. Um cientista que agora dispõe de novas tecnologias. Mas é um ser humano. Seu objetivo é interagir com outros seres humanos, iguais a ele. Mesmo com diferentes idades. A qualidade de seu magistério depende de sua saúde, entusiasmo, ele tem de acreditar no ser humano que ele tenta despertar para a liberdade. Para a maturidade. Depende o professor também de fatos externos como o prédio da escola, a acústica, o barulho da rua, o número de alunos em sala de aula, a temperatura ambiente etc. Ensinar não é nada fácil. É bem mais complexo do que aprender. Nós aprendemos quando “queremos”, quando necessitamos. Já levar a outro o aprender, convencê-lo a isto, é das tarefas mais difíceis.

O que caracteriza um professor? Que qualidades deve ter?

Ele deve ter o mínimo de vocação. A vocação de ajudar. O gosto de incentivar os outros a encontrar os seus objetivos. Ou seja, a felicidade de cada um. O professor é uma porta para a felicidade.

Mas não basta um dom, é preciso mais. É preciso aprender a ensinar. É possível.

É claro que certos atributos e disposições humanas contribuem. E um pouco de sorte. Mas o professor tem de ter uma personalidade forte não-autoritária capaz de suportar os piores trancos. E certas habilidades podem ser cultivadas.

O professor tem de ter “jeito”. E orgulho de sua profissão.

Seu equilíbrio mental será testado a todo momento. Sua personalidade. Tem de ter boa e clara voz. Mesmo fraca, tem de ser clara. Não se deve abalar com as agressões e confusões de sala de aula. A aula deve prosseguir como se nada tivesse acontecido. O professor não se ofende nunca, só ouve o que quer, só o que serve para o andamento das coisas. Inabalável, ele prossegue. Porque o bom professor é um herói.

Tudo isso pode ser cultivado: o gosto pela clareza, pelo resumo, a confiança em si mesmo, certa presença de espírito, o controle emocional, a firmeza, a perseverança, a imaginação, a liderança, a iniciativa, a criatividade, o saber ter boas relações com seus alunos, tendo respeito por eles, a consciência da importância do magistério.

Quando o professor se descontrolar, o melhor que tem a fazer é respirar fundo e dizer:

– “Meus alunos, me desculpem. Eu perdi o controle”.

E rapidamente prosseguir a aula como se nada tivesse acontecido.






Quem é o professor?

É pedir demais? Sim. É ser um herói? Um ser humano assim, com tais qualidades? Mas tudo é relativo. E teórico. Conheci uma professora com voz fraca, magrinha, simpática, que sabia impor-se melhor do que ninguém. Conheci professores com defeito físico vencedores no magistério. Tudo é imprevisível. E depende da personalidade do mestre.

Mas conheci um professor que teve uma crise nervosa na porta do colégio e não conseguiu entrar. Sei de outro que mudou de profissão.

Não basta dizer: “Hoje os alunos não querem nada! Só querem passar! Só vão para a escola por causa as merenda!”

Cabe a nós o despertar-lhe o interesse.

Cabe a nós a alertar os alunos para o perigo de sair da juventude sem estar preparado.

E estar preparado não é ter um diploma. Todos sabemos de um personagem que não tinha diploma e chegou a Presidente da República.

Eu mesmo experimentei muitos fracassos e vitórias, mas sempre soube distinguir o que era a minha (in)capacidade da minha pessoa. Aprendi com meus fracassos, usei-os como elementos de sucesso. Tive a sorte de ter bons mestres.

Pois, o que é um bom professor?

Não há uma definição única e clara. Cada um caso é diferente do outro.

Mas todos esses profissionais devem cultivar certas qualidades específicas.

Não é só o conhecimento específico que faz um bom professor de crianças e adolescentes, que é o de que tratamos aqui. Um erudito sem capacidade de extrair a síntese não pode ser um bom professor. Não é só o conhecimento, mas técnica, a técnica didática, que ele pode aprender num curso de didática ou ao longo dos anos de magistério.

O professor deve ter um conhecimento básico e preciso da matéria que vai ensinar. Não precisa ser um “especialista”, nem um pesquisador, uma autoridade no assunto para ensinar numa escola pública.

Mas ele é um instrumento de aprendizagem, um divulgador de princípios para a vida em geral,

Seja qual for a matéria ensinada, reduzindo o conteúdo ao essencial, dando o caminho curto, pondo aquilo tudo ao alcance dos seus jovens alunos.

Não é fácil, mas é possível. O magistério é uma das profissões mais complexas.

A matéria ensinada deve ser tratada como um aspecto da vida. Deve ser útil e bela. De interesse na vida social. Todo professor devia saber um pouco de socialismo, de sociedade, de economia.

Estudamos para preparar-nos, devia ser o lema de todo aluno.

A vida é sempre difícil, e nós nos preparamos na escola. Se os alunos sentirem isso naquilo que o professor faz, terão respeito e interesse pelas aulas, serão atenciosos com o mestre, e o virão como líder.

Todo curso de didática devia tratar da arte da liderança.





Para quê serve a Didática Geral?

Quando estamos na faculdade, nem sempre damos importância ao estudo da Didática. Mas é ela quem vai-nos dizer como ensinar, apropriadamente, com princípios claros, normas práticas de ação, programas, planos, métodos, recursos, procedimentos adaptados à realidade da escola, do aluno, do professor e do conteúdo. O professor deve ser um aliado, um soldado da educação, não um burocrata. Quem desconhece as teorias didáticas entra nessa batalha desarmado dos instrumentos necessários para o sucesso do seu magistério. O sucesso significa a satisfação, a felicidade com esta profissão.

O objetivo da pedagogia (não distinguimos aqui pedagogia e didática) não é dirigir, formar, mas motivar, resolver conflitos, contornar e simplificar complexidades. Nós, professores, não somos perfeitos. Mas devemos ser insistentes, constantes, irredutíveis nas nossas boas intenções. Quando assim agimos, os alunos sentem, sabem, e colaboram.

A educação é um processo social e individual.

Como social, desenvolve uma nação inteira. Como individual, supera dificuldades, imaturidades.

É impossível que todos os membros de uma sociedade sejam saudáveis, mas o que se quer é que a maioria não seja de marginais desajustados.

A educação nas escolas deve ser sistemática, organizada, planejada para ser completa. Como elemento complexo, a educação tem de ser planejada em todos os seus níveis, escalões, definindo princípios, objetivos a serem alcançados, normas, procedimentos, orientações.

Não existe a melhor técnica de ensino, mas a melhor possível de acordo com cada fragmento da realidade. Por isso, temos de examinar caso a caso, cada realidade objetivamente, cada situação dada.

A didática é comporta de cinco elementos: o aluno, o professor, os objetivos, os conteúdos a serem ensinados e a metodologia utilizada.

O aluno tem de ser visto como um ser humano, com as virtudes e dificuldades de todo ser humano, com suas tendências, interesses e reações. O aluno deve ser “aceito” tal como é, seja como ele ou ela for. Um ser humano, ainda que criança, para ser respeitado e a quem se pergunta: como posso ajudá-lo? O professor não deve querer moldar o aluno e transformá-lo, mas tentar desenvolver no aluno certas qualidades e potencialidades que já estão lá. Se encontra um aluno com tendência ao crime tem de saber como desviar essa potencialidade para o bem social e individual.

O professor é o motor do processo, estimula e corrige o rumo, alimentar o fluxo do processo, sem se envolver emocionalmente com os alunos. O professor tem de ser sempre um profissional, manter uma certa distância técnica entre ele e seus alunos. A relação íntima nunca dá certo: os alunos devem ver o professor com amizade, mas com respeito. Este é o limite delicado e sensível da boa e produtiva relação professor-aluno. Ultrapassar esse limite, transpondo esse nível, pode fazer surgir problemas de controle de classe, indisciplina etc.

________







Os objetivos a serem alcançados

Como anunciamos antes, a didática tem cinco componentes: o aluno, o professor, os objetivos, os conteúdos a serem ensinados e o método apropriado.

Os objetivos a serem alcançados são a razão de ser da escola, o rumo a tomar na vida do aluno, na profissão, o objetivo é a realização, a felicidade, a necessidade, as metas, o resultado positivo.

Trabalhar, lecionar sem ter determinados os objetivos a serem alcançados é como navegar às cegas.

Os conteúdos são as matérias vistas como valores culturais que pertencem à cultura, à civilização, ao grupo social.

O método são os processos e recursos disponíveis para solucionar os conflitos, as dificuldades, as deficiências: o homem é o ser que sempre soube superar suas dificuldades e deficiências e atingir mais ou menos seus objetivos. Da qualidade e escolha do método vai depender o êxito ou o fracasso do magistério e sua felicidade no relacionamento professor\aluno.

A Didática Geral ensina a planejar os trabalhos, tornando-os mais fáceis; e incentivar os alunos, fazendo-os mais interessados e colaboradores. Ensina a como exercer a necessária liderança no controle da classe, sem o quê não pode o professor/a ser útil. Ensina a organizar um plano de trabalho, de aula, de curso. Ensina a diagnosticar a aprendizagem em tempo útil, a como fixar o aprendido, a como verificar o resultado, a corrigir o rumo, a como tirar proveito das falhas, dos erros, a como transformar as dificuldades em vitórias.

É uma ciência maleável, não rígida, não é a mesma para cada caso, ensina a ser flexível, a não ter verdades eternas. Temos de ver o que funciona e o que não funciona em cada caso, do problema temos de saber extrair a solução eficaz.

Todo problema já traz em si as potencialidades de sua solução, ou como diziam os antigos nós não devemos nos preocupar: se tem cura, por que se preocupar? Se não tem cura, por que se preocupar?

O bom professor sabe como fazer, como aplicar isto ou aquilo. Sabe (ou aprende) quando, onde ou como adaptar a técnica de modo a fazer a máquina funcionar.

Nada é fácil, na vida do magistério. No diário é uma profissão difícil. Mas devemos ser realistas e ter a sabedoria (ou esperteza) de solucionar cada problema tempo e continuar a aula e o curso.

Ensinar é um processo transformador. Professor e aluno têm de fazer juntos. O importante é desenvolver e transformar, facilitando o crescimento interior de todos.







ANTOLOGIA DE TEXTOS FUNDAMENTAIS







Estratégias para motivar os alunos


SAUL NEVES DE JESUS*

RESUMO – Neste artigo sintetizamos as principais implicações práticas decorrentes de algumas
investigações anteriores que desenvolvemos sobre estratégias que os professores podem utilizar no sentido
de uma maior motivação dos alunos para a aprendizagem e para apresentarem comportamentos mais
adequados na sala de aula.
Descritores – Motivação; aprendizagem; disciplina; alunos

ABSTRACT – In this paper are pointed out the main practical implications from some previous researches
about student motivation to learn and to more appropriate behaviours in the classroom.
Key words – Motivation; learning; discipline; students.
��
* Professor Catedrático de Psicologia da Universidade do Algarve; Doutor em Psicologia da Educação; Director do Mestrado em Psicologia da Educação
e do Mestrado em Psicologia da Saúde. E-mail: .
Artigo recebido em: agosto/2007. Aprovado em: setembro/2007.
Este artigo foi escrito com um objectivo prático de
explicitar estratégias concretas que possam ser utilizadas
na prática pedagógica, ajudando os professores a encontrar
soluções para as situações de falta de motivação
dos seus alunos, as quais são cada vez mais frequentes e
com implicações por vezes graves, sobretudo ao nível
dos comportamentos de indisciplina na sala de aula.
No entanto, convém salientar que as estratégias
práticas aqui propostas não surgiram por acaso, sendo o
resultado de trabalhos de reflexão teórica e de investigação
empírica anteriores, os quais nos permitiram
formular um Modelo Integrativo da Motivação Humana
(JESUS, 1996a; JESUS e LENS, 2005), com base em
diversas teorias cognitivistas da motivação, nomeadamente
a Teoria Relacional de Nuttin (1980), a Teoria
da Atribuição Causal de Weiner (1985), a Teoria da
Auto-Eficácia de Bandura (1977), a Teoria do Locus de
Controlo de Rotter (1966) e a Teoria da Motivação
Intrínseca de Deci (1975).
Neste artigo, distinguimos uma parte que diz respeito
à apresentação de estratégias para motivar os alunos para
as aprendizagens escolares, de outra que se centra sobre
a problemática da indisciplina dos alunos na sala de aula,
uma das principais consequências da desmotivação dos
alunos, apresentando algumas estratégias que podem
ajudar o professor a resolver estas situações. Termina
com a apresentação de alguns aspectos de três filmes que
ilustram várias das estratégias que explicitamos.
Retomamos desta forma a dimensão mais prática de
trabalhos anteriores em que procurámos estudar este
tema da motivação dos alunos, em particular nos livros
“Influência do Professor sobre os Alunos” (JESUS,
1996), “Bem-Estar dos Professores” (JESUS, 1998),
“Motivação e formação de professores” (JESUS, 2000)
e “Psicologia da Educação” (JESUS, 2004).
1 ESTRATÉGIAS PARA MOTIVAR OS ALUNOS PARA
AS APRENDIZAGENS ESCOLARES
O professor na sala de aula é um líder, pois procura
influenciar os seus alunos para que estes se interessem
pelas aulas, estejam atentos, participem, apresentem
comportamentos adequados e obtenham bons resultados
escolares.
Neste contexto, importa analisar que factores podem
permitir aos professores influenciar os seus alunos ou,
no mesmo sentido, o que é que leva os alunos a deixarem-
se influenciar pelo professor.
Na linha de French e Raven (1967), podemos
distinguir quatro grandes factores de influência dos
professores sobre os alunos: o reconhecimento do
estatuto do professor pelos alunos; o reconhecimento
22 Saul Neves de Jesus
Educação, Porto Alegre, v. 31, n. 1, p. 21-29, jan./abr. 2008
pelos alunos da capacidade de recompensar ou de punir
do professor, através das avaliações e das estratégias de
gestão da indisciplina; o reconhecimento pelos alunos da
competência do professor nos conhecimentos que este
lhes pretende ensinar; o reconhecimento de certas qualidades
pessoais e interpessoais no professor, apreciadas
pelos alunos, desenvolvendo-se processos de identificação
(JESUS, 1996b).
No passado, os alunos deixavam-se influenciar pelo
professor por aceitarem pacificamente o seu estatuto, por
o considerarem competente na área de conhecimentos
que devia ensinar e também por lhe reconhecerem poder
para recompensar ou punir através das avaliações e das
estratégias de gestão da indisciplina, não sendo postas
em causa as decisões tomadas pelo professor a este nível.
Actualmente, devido a múltiplos factores (JESUS, 2002,
2003, 2007; LENS e JESUS, 1999), muitos alunos não
se deixam influenciar pelo professor apenas devido ao
facto de ser o “senhor doutor” ou “senhor professor” a
sugerir, desvalorizam a escola como fonte de acesso ao
saber ou conhecimento, colocando muitas vezes em
dúvida a competência do professor, para além deste
também ter vindo a perder poder no que diz respeito à
capacidade de gestão da aprendizagem e da disciplina
dos alunos. Inclusivamente, são freqüentemente contestadas
as suas decisões pelos próprios alunos e pelos pais
destes, para além de todo o trabalho burocrático exigido
ao professor nas situações em que pretende reprovar
algum aluno. Assim, dos quatro factores de influência
distinguidos, aquele que parece ter maior importância na
actualidade é a identificação do aluno com o professor.
Isto é, o sucesso do professor junto dos alunos passa
muito pelo reconhecimento de certas qualidades pessoais
e relacionais no primeiro que os últimos apreciam.
A identificação do aluno com o professor passa
muito pela satisfação obtida na relação estabelecida. No
entanto, muitas vezes há uma insatisfação recíproca na
relação entre os professores e os alunos. Esta conclusão
foi obtida por Gilly (1976) quando investigou as representações
recíprocas dos professores e dos alunos, ao
verificar que o docente previligia na sua representação
dos alunos os aspectos cognitivos, enquanto estes
previligiam na sua representação dos professores os
aspectos afectivos e relacionais. Neste sentido, parece
haver um “mal-entendido” na relação pedagógica, sendo
importante que os professores se aproximem das necessidades
relacionais e de desenvolvimento dos alunos,
no sentido de os conseguirem influenciar ou motivar para
o alcance dos objectivos da educação escolar no plano
cognitivo. No passado, os alunos tinham que se adaptar
aos métodos dos professores, mas actualmente o
professor deve procurar ir ao encontro dos interesses e
da linguagem dos alunos, sendo flexível (de acordo com
o provérbio “professor, se eu não aprendo como tu me
ensinas, ensina-me de forma que eu aprenda”) e dando o
exemplo (um líder não pode funcionar segundo o
princípio “faz o que eu digo e não o que eu faço”).
Para potencializar a criação de “laços” com os alunos
e a motivação destes, os professores devem evitar o
distanciamento, a “neutralidade afectiva” e o autoritarismo,
devendo, ao contrário, fomentar uma “relação
de agrado” (RIBEIRO, 1991), caracterizada pelo diálogo,
pela negociação e pelo respeito mútuo.
Embora os professores tenham perdido poder nos
últimos anos, dificultando a utilização de alguns factores
de influência sobre os alunos que no passado resultavam,
continuam a possuir um instrumento fundamental para
conseguirem criar laços de identificação com os alunos,
influenciando-os: a linguagem utilizada na relação
pedagógica, quer verbal, quer não verbal.
Algumas das frases que o professor pode utilizar
para uma “relação de agrado” são as seguintes: “devias
estar orgulhoso dos teus resultados”, em vez de “estou
orgulhoso de ti” (no sentido de responsabilizar o aluno
pelo seu comportamento, indo ao encontro da sua
necessidade de auto-determinação); “estás quase lá”, em
vez de “está quase tudo errado” ou “não fazes nada de
jeito” (no sentido de promover uma percepção de
aperfeiçoamento pessoal e o esforço do aluno); “estejam
à vontade para perguntar sempre que não compreenderem
alguma explicação ou queiram apresentar
algum comentário relevante”, em vez de “não me
interrompam, se tiverem dúvidas perguntem no fim” (no
sentido de promover a participação dos alunos e a
compreensão e o acompanhamento das explicações do
professor); “vez como hoje te estás a portar bem”, em
vez de “para brincar estás sempre pronto” ou “tinhas que
ser tu” (no sentido de evidenciar os comportamentos de
disciplina dos alunos e não apenas os de indisciplina).
Também a aprendizagem e a motivação dos alunos
depende da identificação destes com o professor. No
entanto, verifica-se que muitos alunos apresentam
insucesso funcional, isto é, a sua aprendizagem ou saber
não corresponde ao que seria de esperar dado o nível
de escolaridade, e muitos encontram-se desmotivados
relativamente às tarefas escolares. Esta situação constitui
um dos principais problemas para os professores. Numa
investigação conduzida por Lens (1994), verificou-se
que a maioria dos professores considera que mais de
metade dos seus alunos se encontram desmotivados para
o estudo, sentindo que, mesmo que queiram, não conseguem
resolver este problema.
Com base nestes resultados, não obstante deverem
ser tomadas medidas que permitam restituir o poder aos
professores, nomeadamente serem definidos objectivos
mínimos de aprendizagem necessários para que os
alunos possam transitar para o ano lectivo seguinte e
serem tidas em conta as notas obtidas desde o início do
Estratégias para motivar os alunos 23
Educação, Porto Alegre, v. 31, n. 1, p. 21-29, jan./abr. 2008
percurso escolar dos alunos para o ingresso no ensino
superior, tornando-os mais responsáveis e motivados
para aprender logo desde os primeiros anos de escolaridade,
parece fundamental analisar algumas estratégias
que o professor pode utilizar para se confrontar de
forma mais autoconfiante e com sucesso perante as
situações de desinteresse dos seus alunos.
Especificamente, existem diversas estratégias que
os professores podem utilizar para motivar os seus
alunos para as tarefas escolares (ABREU, 1996; CARRASCO
e BAIGNOL, 1993; JESUS, 1996B; LENS e
DECRUYENAERE, 1991):
• manifestar-se entusiasmado pelas actividades
realizadas com os alunos, constituindo um modelo
ou exemplo de motivação para eles;
• clarificar, logo no início do ano lectivo, o
“porquê?” da seqüência dos conteúdos programáticos
da disciplina que lecciona, levando os
alunos a aperceberem-se da coerência interna
entre as matérias a aprender e a adquirirem uma
perspectiva global dessas aprendizagens;
• explicitar o “para quê?” das matérias do programa
da disciplina que lecciona, em termos da sua
ligação à realidade fora da escola e da sua relevância
para o futuro dos alunos;
• alargar a perspectiva temporal de futuro dos
alunos, levando-os a valorizar certas metas para
cujo alcance a escola constitui um meio ou
instrumento, contribuindo para que eles não se
limitem a uma atitude imediatista e consumista
face às alternativas facultadas pela sociedade
actual;
• salientar as vantagens que poderão advir para a
vida futura dos alunos se estudarem, comparativamente
às desvantagens se não estudarem,
embora actualmente haja uma grande incerteza
quanto às possibilidades de concretização dos
projectos pessoais;
• procurar saber quais são os interesses dos alunos
e o nome próprio de cada um deles;
• utilizar recompensas exteriores ao gosto e à
competência que a realização das próprias tarefas
poderiam proporcionar, indo ao encontro dos
interesses dos alunos, apenas no início do processo
de ensino-aprendizagem e quando os alunos
apresentam uma motivação muito baixa;
• deixar os alunos participarem na escolha das
matérias e tarefas escolares, sempre que possível;
• criar situações em que os alunos tenham um papel
activo na construção do seu próprio saber (de
acordo com o provérbio “se ouço esqueço, se vejo
lembro, se faço aprendo”);
• aproveitar as diferenças individuais na sala de
aula, levando os alunos mais motivados, com mais
conhecimentos ou que já compreenderam as
explicações do professor a apresentarem os conteúdos
aos outros alunos com mais dificuldades,
contribuindo para uma maior compreensão e retenção
da matéria por parte dos primeiros e para a
modelação dos últimos;
• incentivar directamente a participação dos alunos
menos participativos, através de “pequenas” responsabilidades
que lhes possam permitir serem
bem sucedidos;
• fomentar o desenvolvimento pessoal e social dos
alunos, através de estratégias de trabalho autónomo
e de trabalho de grupo;
• utilizar metodologias de ensino diversificadas e
que tornem a explicação das matérias mais clara,
compreensível e interessante para os alunos;
• estabelecer as relações entre as novas matérias e
os conhecimentos anteriores;
• partir de situações ou acontecimentos da actualidade
ou da realidade circundante para ensinar as
matérias aos alunos;
• utilizar um ritmo de ensino adequado às capacidades
e conhecimentos anteriores dos alunos,
previligiando a qualidade à quantidade de matérias
expostas;
• criar situações de aprendizagem significativas
para os alunos, contribuindo para uma retenção
das aprendizagens a médio/longo prazo;
• evitar levar os alunos a estudar apenas na perspectiva
do curto prazo porque vão ser avaliados
sobre as matérias em causa;
• diminuir o significado ansiógeno dos testes de
avaliação, contribuindo para o potencializar das
qualidades dos alunos, para um maior empenhamento
destes noutras tarefas escolares e uma
menor ansiedade face às provas de avaliação;
• proporcionar vários momentos de avaliação formativa
aos alunos, levando-os a sentirem satisfação
por aquilo que já conseguiram aprender e
motivação para aprenderem as matérias seguintes;
• reconhecer o progresso escolar dos alunos, comparando
os seus conhecimentos actuais com os
seus conhecimentos anteriores, levando-os a percepcionar
as melhorias ocorridas e a acreditar na
possibilidade de ainda poderem melhorar mais os
seus desempenhos se se esforçarem;
• reconhecer e evidenciar tanto quanto possível o
esforço e a capacidade dos alunos, não salientando
sobretudo os erros cometidos por estes;
• ter confiança e optimismo nas capacidades dos
alunos para a realização das tarefas escolares,
explicitando-o verbalmente;
24 Saul Neves de Jesus
Educação, Porto Alegre, v. 31, n. 1, p. 21-29, jan./abr. 2008
• contribuir para que o aluno seja bem sucedido nas
tarefas escolares, aumentando a sua autoconfiança,
nível de excelência e “brio” na realização
escolar;
• promover a realização de tarefas de um nível de
dificuldade intermédio aos alunos, pois as tarefas
demasiado fáceis ou demasiado difíceis não fomentam
o envolvimento do aluno, nem a percepção
de competência pessoal na sua realização;
• levar os alunos a atribuir os seus fracassos a
causas instáveis (por exemplo, falta de esforço) e
não a causas estáveis (por exemplo, falta de
capacidade), de forma a que aumentem as expectativas
de sucesso e o empenhamento em
situações futuras;
• clarificar crenças inadequadas sobre os resultados
escolares que os alunos possuam e que possam
estar a contribuir para um menor esforço ou
empenhamento nas actividades de estudo (por
exemplo, “o professor não gosta de mim e, logo,
não vou conseguir obter boa nota”);
• ajudar os alunos a aproveitarem o esforço dispendido
nas tarefas de aprendizagem, através do
desenvolvimento de competências de estudo, pois
“mais vale estudar pouco e bem do que muito mas
mal”.
2 ESTRATÉGIAS PARA MOTIVAR OS ALUNOS PARA
A DISCIPLINA NA SALA DE AULA
A indisciplina dos alunos constitui, na actualidade,
o principal factor de mal-estar docente para muitos
professores, de acordo com os resultados obtidos em
diversas investigações (JESUS, 1996a).
Sobretudo nos últimos anos, tem-se verificado um
aumento da freqüência e da gravidade das situações de
violência nas escolas e de indisciplina dos alunos na sala
de aula, nomeadamente das agressões verbais e físicas
entre os alunos e destes aos professores e funcionários,
fomentando um clima de medo e insegurança entre os
alunos, sobretudo mais novos e disciplinados, os pais,
receando pelo que possa acontecer aos seus filhos na
escola, os professores e os funcionários, pela agressividade
que os alunos possam manifestar. Num estudo
recentemente realizado em Portugal, a pedido do Ministério
da Educação (Instituto de Inovação Educacional),
sobre “A violência nas escolas” (VALE e COSTA,
1998), em que participaram cerca de 5000 alunos dos 8º
e 11º anos de escolaridade, de 142 escolas, foram obtidos
resultados que traduzem as proporções que as situações
de indisciplina começam a ter no nosso país, nomeadamente
verificou-se que 42% dos alunos já ouviram
insultar um professor na escola.
Também numa outra investigação recentemente
realizada no nosso país (CURTO, 1998), com alunos do
7º ano de escolaridade, verificou-se que a maioria dos
alunos inquiridos consideram que as turmas de que
fazem parte são “pouco disciplinadas” (46%) ou “indisciplinadas”
(13.3%), comparativamente aqueles que
consideram as suas turmas “disciplinadas” (34.5%) ou
“muito disciplinadas” (3.5%).
Face a estas situações começam a ocorrer manifestações
de saudosismo relativamente às práticas utilizadas
no passado e, entretanto, criticadas e abandonadas
em países considerados dos mais desenvolvidos do
mundo e que constituem modelos de democracia, liberdade
e inovação. Nos EUA é onde estas manifestações
ocorrem de forma mais radical com a defesa do castigo
físico nas escolas por responsáveis políticos, a expulsão
da escola de uma criança de 6 anos por ter beijado na
face uma colega, e a oferta, por associações de professores,
de cursos de judô para que os professores se
defendam dos alunos. Também alguns responsáveis
políticos de países da Europa defendem a reintrodução
do castigo corporal, nomeadamente a Ministra da Educação
e do Emprego de Inglaterra. Em Portugal, embora
as situações de indisciplina (ainda) não tenham as proporções
que se verificam nestes países, já há manifestações
de saudosismo que apontam no mesmo sentido.
Nomeadamente, num estudo de opinião, metade dos
participantes defendem a reintrodução de reguadas pelos
professores (FERNANDES, 1996). Por seu turno, a
Confederação de Pais (CONFAP) considera que deveria
haver mais castigos nas escolas, afirmando que “as
estatísticas podem dar a ideia de que está tudo bem, o
que não é verdade” (LIMA, 1997, 20), pois em 1996, de
mais de um milhão de alunos das escolas públicas
portuguesas, houve apenas vinte e sete suspensões por
períodos iguais ou superiores a oito dias, quando a
frequência de situações de indisciplina graves, nomeadamente
a agressão aos professores, é muito superior.
Conforme já tivemos oportunidade de defender num
trabalho anterior (JESUS, 1996b), as estratégias punitivas,
aparentemente eficazes por provocarem medo nos
alunos, apenas apresentam efeitos a curto prazo, sendo
necessário aumentar a intensidade e a frequência da
punição para continuar a ter os mesmos efeitos sobre o
comportamento destes. Além disso, o professor funciona
como modelo agressivo quando deveria fornecer um
exemplo de estabilidade e serenidade aos seus alunos.
Por seu turno, as suspensões são entendidas por muitos
alunos indisciplinados como “uns dias de férias”, não
tendo as implicações correctivas que tinham no passado
ao nível do seu comportamento.
Tendo em conta que a realidade actual é completamente
diferente e que os problemas devem ser analisados
no contexto histórico-social em que ocorrem, não
Estratégias para motivar os alunos 25
Educação, Porto Alegre, v. 31, n. 1, p. 21-29, jan./abr. 2008
nos parece que o retorno às práticas de educação escolar
utilizadas no passado possa constituir a via mais adequada
para resolver os problemas que se colocam aos
professores na actualidade. Passámos de uma educação
escolar caracterizada por um elevado autoritarismo para
um sistema demasiado permissivo, sendo fundamental
encontrar um ponto de equilíbrio.
Especificamente, no que diz respeito à gestão da
indisciplina dos alunos, é necessária uma acção concertada
a vários níveis, em particular no plano sociopolítico,
no plano da organização e gestão das escolas, no
plano do trabalho dos professores em equipa e no plano
da colaboração entre professores e pais, para além das
estratégias que o professor pode utilizar na sala de aula.
De seguida, apresentamos algumas das estratégias
que os professores podem utilizar para prevenir e gerir
situações de indisciplina dos alunos:
• manter-se sempre calmo, sereno e seguro, no
sentido de modelar o comportamento dos alunos;
• ser flexível, desde que coerente e estável, na
forma de actuação, podendo alguma surpresa no
comportamento do professor em relação aos
alunos permitir uma maior eficácia na influência
sobre estes (por exemplo, o professor pode
aproveitar e manifestar humor nalgumas situações
inesperadas em vez de ficar perturbado com elas);
• evitar confrontos desnecessários, sendo mais
tolerante (por vezes, é preferível que o professor
faça que não percebe ou que deixe passar algumas
situações menos graves do que tentar controlar
todas as situações, pois pode perder a eficácia na
actuação quando realmente se justifica intervir);
• nunca se esquecer que também já foi aluno,
criança ou adolescente, e que também gostava de
brincar;
• evitar categorizar ou rotular os alunos indisciplinados,
pois pode estar a contribuir para a manutenção
do comportamento destes (por exemplo,
não dizer “tinhas que ser tu”);
• não se distanciar dos alunos indisciplinados,
apenas estabelecendo relação com eles quando
apresentam comportamentos de indisciplina, pois
nenhum aluno é sempre indisciplinado durante
todos os minutos em que decorrem as aulas;
• tendo em conta que os comportamentos de
disciplina também podem ser aprendidos, enfatizar
os aspectos positivos do comportamento e da
aprendizagem dos alunos, encorajando os seus
progressos e fomentando uma expectativa de autoconfiança
(por exemplo, dizer “sei que és capaz”),
não estabelecendo interacção apenas quando o
comportamento é incorrecto ou quando há insucesso
na aprendizagem;
• dialogar com os alunos indisciplinados, procurando
compreender os motivos que estiveram na
base dos comportamentos identificados e fazendo
com que estes alunos também compreendam o
papel do professor, mas sobretudo que o professor
também é uma pessoa (também é “de carne e
osso”) que deve ser respeitada;
• fazer com que os alunos voltem a acreditar que
podem vir a alcançar resultados escolares positivos;
• orientar a participação dos alunos para as matérias
em análise, valorizando e incentivando essa participação;
• delegar funções de “assistente” no líder informal
da turma, para a gestão da indisciplina na sala de
aula;
• separar os alunos que perturbam;
• repreender os alunos em particular e apenas
quando tal atitude é efectivamente necessária;
• identificar os casos de alunos com problemas
familiares (por exemplo, agressividade na família
ou alimentação deficiente) e tentar contribuir para
a resolução de tais situações;
• nos questionários feitos no início do ano lectivo, a
todos os alunos que entram no ensino básico ou
secundário, colocar questões sobre violência
escolar, nomeadamente sobre motivos e formas
de resolução que os alunos têm para propôr no
sentido de diminuir a ocorrência e gravidade
destas situações;
• estabelecer contratos (gestão de contingências)
que identifiquem os comportamentos a corrigir
pelos alunos, no sentido de os responsabilizar
e de os levar a desenvolver uma “disciplina
interior”.
• Aliás, o desenvolvimento da autodisciplina deve
ser o objectivo de qualquer estratégia para gerir
a indisciplina dos alunos (ARENDS, 1995;
ESTRELA, 1992).
• Os exercícios de simulação são fundamentais
para o desenvolvimento de competências profissionais
ao nível da formação inicial (ESTEVE e
FRANCCHIA, 1986). No entanto, ao nível da
formação contínua de professores parece-nos que
o desenvolvimento profissional passa sobretudo
pelo trabalho em equipa, envolvendo a troca de
experiências, num clima de autenticidade, empatia
e cooperação.
A existência de regras implica o trabalho em equipa
pelos professores de uma mesma escola, para troca de
experiências, definição de perspectivas de intervenção e
encontrar consensos quanto aos comportamentos que
devem ser considerados de indisciplina. A indisciplina
26 Saul Neves de Jesus
Educação, Porto Alegre, v. 31, n. 1, p. 21-29, jan./abr. 2008
integra todos os comportamentos que os alunos apresentam
na sala de aula que perturbam o trabalho que
o professor pretende realizar, podendo uns professores
considerar que certos comportamentos constituem
indisciplina e outros não (por exemplo, bocejar, mastigar
pastilhas elásticas, usar boné, participar sem pedir a
palavra ou distrair-se facilmente). É necessário que os
professores se reunam para encontrar consensos e definir
regras claras sobre os comportamentos aceitáveis e os
não aceitáveis, evitando que os alunos possam argumentar
“mas o professor X deixa fazer”. Estas regras
devem ser apresentadas pelo Directores de Turma aos
alunos logo na primeira aula e explicar-lhes porquê que
são necessárias, podendo também, inclusivamente, ser
afixadas nas salas de aula.
Tivemos oportunidade de verificar na Escola EB 2+3
de Santa Iria em Tomar, em que estava afixado um
documento, elaborado pelo Conselho Pedagógico, que
definia as regras de actuação do aluno na sala de aula,
sendo distinguido o que ele deve fazer (por exemplo,
“entrar/sair ordenadamente”, “ser pontual”, “sentar-se
correctamente” e “aguardar a sua vez de falar”) e o
que ele não deve fazer (por exemplo, “trazer pastilhas
elásticas”, “levantar-se sem autorização” e “danificar o
material escolar”).
Também numa outra escola, a Escola C+S Dr. João
Rocha-Pai de Vagos, havíamos verificado que havia um
documento afixado nas diversas salas de aula sobre
“Aprender a aprender”, no sentido de ajudar os alunos
a identificar e a desenvolver competências de métodos
de estudo que lhes permitissem aproveitar as suas
capacidades e obter melhores resultados escolares. Esta
metodologia de afixar e distribuir documentos, com
indicações que podem ajudar o aluno a orientar o seu
comportamento, parece-nos ser um exemplo a seguir
pelas diversas escolas.
Na elaboração do regulamento de disciplina interno
também poderiam participar os próprios alunos, bem
como os funcionários da escola e os encarregados de
educação, tornando o estabelecimento de regras mais
participado, permitindo aumentar a responsabilização
pela sua concretização por todos os intervenientes.
Muitos professores, quando os alunos apresentam comportamentos
de indisciplina, por vezes, questionam-os
sobre as consequências esperadas (por exemplo, perguntam
ao aluno “o que é que tu merecias?”), ficando
surpreendidos com o nível de exigência que eles apresentam
relativamente às consequências que deveriam
decorrer do seu próprio comportamento de indisciplina,
revelando que os alunos também poderiam ser envolvidos
neste processo de definição de regras de
disciplina.
Esta abertura dos professores ao feedback fornecido
pelos alunos pode ser um factor essencial do
desenvolvimento e da aprendizagem dos professores, no
sentido de regularem e aperfeiçoarem as suas próprias
práticas educativas. A investigação conduzida por Curto
(1998) permitiu verificar que os alunos consideram que
os professores têm muita influência no potencializar de
situações de indisciplina. Nomeadamente, a maioria
dos alunos considera que “a indisciplina depende do
professor” e que “a simpatia do professor diminui a
indisciplina dos alunos”.
No âmbito de um projecto de investigação que
coordenámos (JESUS e XAVIER, 1997) foram obtidos
resultados que evidenciam que o diálogo com os alunos
sobre estratégias para gerir a indisciplina destes últimos
pode ser factor de desenvolvimento, aprendizagem e
aperfeiçoamento profissional. Inclusivamente, começa a
ser proposta (CARITA e FERNANDES, 1997) que não
sejam apenas os professores a identificar os comportamentos
indesejáveis dos alunos e a formularem regras
no sentido de evitar a sua ocorrência, mas que também
sejam os alunos a identificar os comportamentos de
professores que perturbam o desenrolar de processos de
ensino e aprendizagem.
Em todo o caso, a adequação das estratégias utilizadas
pelos professores depende também do nível
de desenvolvimento psicossocial e moral dos alunos
(GOMEZ, MIR e SERRATS, 1993; SPRINTHALL e
SPRINTHALL, 1993). Por exemplo, enquanto na fase
em que a criança frequenta o jardim de infância pode
ter sentido a utilização da força física, não enquanto
agressividade, mas sim para restaurar o controlo da
situação pelo educador, no 1º Ciclo parece ser mais
relevante o uso de reforços materiais, sobretudo positivos,
e no 2º e 3º Ciclos pode ser utilizada a força do
grupo social, em termos de aprovação ou desaprovação.
A formulação de regras com a participação de todos os
intervenientes, no sentido de aumentar a responsabilização
pela sua concretização, requer que os participantes
se encontrem no nível pós-convencional do
desenvolvimento moral, o que ocorre durante o Ensino
Secundário. Assim, a análise da gestão da indisciplina
deve pressupor uma abordagem desenvolvimentista que
se traduza na sugestão de estratégias diferenciadas para
cada nível de ensino (JESUS e XAVIER, 1998).
As estratégias, atrás apresentadas, são algumas que
os professores podem utilizar no sentido de uma maior
facilidade na gestão da disciplina dos alunos na sala de
aula. No entanto, não há receitas universais e cada
professor deve procurar aprender a partir da própria
experiência, sendo coerente consigo próprio. Fundamentalmente,
se o professor quer ser respeitado pelos seus
alunos, tem que ele próprio respeitar-se e apreciar as suas
qualidades pessoais e profissionais. Assim, uma das
regras que o professor deve ter em conta é tentar analisar
o seu próprio comportamento face às situações de
Estratégias para motivar os alunos 27
Educação, Porto Alegre, v. 31, n. 1, p. 21-29, jan./abr. 2008
indisciplina dos alunos e procurar aprender com essas
experiências, no sentido de um maior autoconhecimento
e aperfeiçoamento progressivo.
3 ABORDAGEM DE FILMES QUE ILUSTRAM
ESTRATÉGIAS PARA MOTIVAR OS ALUNOS
Algumas das estratégias para motivar os alunos
referidas anteriormente encontram-se explicitadas em
três filmes (“Clube dos poetas mortos”, “O professor” e
“Mentes perigosas”), que ilustram possíveis formas
de estabelecer “laços” ou desenvolver processos de
identificação que possam contribuir para a motivação
dos alunos.
Tendo em conta que os professores têm poucas
oportunidades para serem confrontados com o desempenho
de colegas na sala de aula, os filmes em causa
podem constituir bons exemplos a reter, pelo que iriamos
passar a destacar alguns dos aspectos que, neste âmbito,
nos parecem mais relevantes.
No “Clube dos poetas mortos” é notória a diferença
entre Mr. Keeting e os professores que aparecem no
início do filme. Estes últimos, para além duma atitude
que traduz pouca motivação para ensinar, enfatizam a
avaliação dos conhecimentos como a finalidade do
processo de ensino-aprendizagem, devendo os alunos
estudar as matérias porque vão ser avaliados sobre elas.
Mr. Keeting apresenta uma postura de grande entusiasmo
e gosto pela docência, procurando contribuir para o
desenvolvimento pessoal e social dos seus alunos. Este é
um dos grandes objectivos da educação escolar na
actualidade pelo que, não obstante este filme procurar
retratar a realidade educativa dos anos 60 num colégio
tradicional dos EUA, a atitude do Mr. Keeting permanece
bastante actual, constituindo um bom exemplo
para muitos professores. Especificamente, este professor
procura desenvolver o espírito crítico dos alunos perguntando-
lhes constantemente “porque é que o autor diz
isto?”. Inclusivamente, a situação em que se coloca em
cima da secretária e convida os alunos a fazerem o
mesmo tem este objectivo: “Estou em cima da secretária
para me lembrar que devemos olhar constantemente as
coisas de forma diferente. Não tenham só em mente o
que o autor pensa. Pensem no que vocês pensam.
Esforçem-se por encontrar a vossa própria voz”. Mas a
parte do filme que parece melhor ilustrar o papel que o
professor pode desempenhar a este nível é a situação em
que no início da aula Mr. Keeting solicita a um aluno
(Mr. Anderson), cujo comportamento revela alguma
timidez e falta de confiança em si próprio, para apresentar
o poema que todos os alunos deveriam ter feito
como trabalho de casa e este aluno não o havia realizado.
Habitualmente, o que acontece nestas circunstâncias
é o professor passar a um aluno seguinte até encontrar
algum que tenha feito o “TPC” e a partir daí continuar a
sua aula. Este tipo de alunos são categorizados como
“calados”, mas até correspondem a alunos que os
professores gostam de ter nas suas turmas porque não
são indisciplinados e até estão com atenção e obtêm
positiva nos testes de avaliação. Só que, embora estes
alunos até adquiram alguns conhecimentos curriculares,
no plano do seu desenvolvimento pessoal e social pouco
acontece, continuando “calados” nos anos lectivos seguintes.
Mr. Keeting revela ter uma sensibilidade particular
para esta situação (“Mr. Anderson pensa que tudo
dentro de si é inútil e embaraçoso. Engana-se, tem algo
dentro de si com grande valor”), incentivando este aluno
para deixar emergir o seu potencial criativo ao levá-lo a
ser capaz de criar um poema espontaneamente na sala de
aula que surpreendeu o próprio aluno e os seus colegas.
Além disso, outra particularidade, nesta situação, é
o facto de Mr. Keeting no final ir junto deste aluno
dizendo-lhe ao ouvido “nunca te esqueças deste momento”.
Fundamentalmente, o que todas as pessoas
procuram são experiências de vida positivas. Também os
alunos apresentam este objectivo, devendo o professor
tentar proporcionar-lhes este tipo de vivências, pois estas
também representam experiências gratificantes para os
próprios professores.
O filme “O professor” apresenta a particularidade de
traduzir uma situação cada vez mais frequente, aquela
em que o professor inicia esta actividade profissional de
forma transitória e com pouca motivação. É o caso de
Mr. Holland que foi ser professor porque pensava que
esta actividade lhe permitia ter mais “tempo livre” para
escrever as suas músicas, conforme refere logo no início
a um colega professor. A desmotivação de Mr. Holland é
bem manifesta na relação distante que mantém com os
alunos, estando apenas preocupado em cumprir o
programa e manifestando-se “irritado” quando os alunos
apresentam baixos resultados nos testes. Inclusivamente,
refere à sua mulher que quando era aluno queria estar
noutro sítio qualquer, mas nunca pensou que os professores
sentissem o mesmo, acrescentando inclusivamente
o seguinte: “Odei-o ensinar. Ninguém consegue
ensinar aqueles alunos”. Até que resolve começar a ir ao
encontro dos interesses dos alunos, verificando que estes
e ele próprio gostaram mais desta aula do que das
anteriores. Faz então esta opção por tornar as aulas mais
interessantes para os alunos e para si próprio, constituindo
um bom exemplo de uma atitude fundamental a
tomar por qualquer professor, a de tentar tornar as
experiências ocorridas no âmbito do processo de ensinoaprendizagem
tão satisfatórias quanto possível e de as
vivenciar com alegria. E parece valer a pena, pois no
final do filme, quando lhe é feita uma festa surpresa de
despedida, são significativas as palavras de uma ex-aluna
sua: “Mr. Holland teve uma profunda influência na
28 Saul Neves de Jesus
Educação, Porto Alegre, v. 31, n. 1, p. 21-29, jan./abr. 2008
minha vida. Em muitas vidas. Contudo sinto que ele
considera grande parte da sua vida disperdiçada. Ele
estava sempre a trabalhar na sua sinfonia. Ela ia torná-lo
famoso, rico. Provavelmente as duas coisas. Mas Mr.
Holland não está rico. E não é famoso. Pelo menos fora
da nossa pequena cidade. Portanto seria natural ele
considerar-se um falhado. Mas estaria enganado. Porque
eu acho que ele alcançou um êxito muito superior à
riqueza e fama. Olhe à sua volta. Não há uma vida nesta
sala que não tenha influenciado. E cada um de nós é uma
pessoa melhor graças a si. Nós somos a sua sinfonia Mr.
Holland. Nós somos as melodias e as notas da sua obra.
Nós somos a música da sua vida”.
Por seu turno, o filme “Mentes perigosas” pretende
ilustrar a realidade cada vez mais actual das nossas
escolas, com turmas constituídas por alunos desinteressados
e indisciplinados. Esta situação provoca um
“choque com a realidade” da Mrs. Louene, professora
em início de carreira que nunca pensou vir a encontrar
uma turma com estas características. Face à situação
geral de indisciplina dos alunos evidenciada na primeira
aula, esta professora tenta utilizar uma estratégia que
havia lido num livro sobre formas de lidar com a
indisciplina, concretamente escrever o nome do aluno
mais indisciplinado no quadro. No entanto, esta estratégia
não resultou, ficando Mrs. Louene desesperada
com o facto de não conseguir controlar a situação.
Convém salientar que o problema não está nos livros,
mas no aproveitamento que deles é feito, pois as
sugestões apresentadas para a resolução de situaçõesproblema
devem ser encaradas como meras hipóteses de
solução e não como receitas universais. Isto é, qualquer
estratégia para resultar tem que ser integrada no estilo
pessoal do professor que a vai utilizar e na situação em
causa, tendo em conta os alunos envolvidos.
Nesse sentido, o aproveitamento da experiência e das
qualidades pessoais por cada professor é fundamental
para gerir situações de indisciplina. No caso de Mrs.
Louene ela tenta chamar a atenção dos alunos ou criar
laços de identificação com eles indo ao encontro dos seus
interesses, ao salientar o facto de já ter sido fuzileira e de
os alunos também poderem vir a ser bons fuzileiros,
sendo a partir daquele momento cada um deles um
aspirante. Inclusivamente, refere aos alunos que “a partir
deste momento todos têm 20 valores, só tendo que se
esforçar para manter a nota”. Este discurso vai levar estes
alunos a entender o sentido da escola de forma completamente
diferente, voltando a acreditar na possibilidade
de obter sucesso escolar e, logo, a apresentar
comportamentos mais adequados para que a aprendizagem
pudesse ocorrer.
A tentativa de ir ao encontro dos interesses, vivências
e linguagem dos alunos também é evidente nos
poemas que começa por analisar com eles. Esta é uma
estratégia que muitos professores, sobretudo de português,
poderiam utilizar na actualidade, aproveitando as
letras de algumas músicas de que os alunos gostam, em
vez de rejeitarem à partida o interesse destas músicas,
porque “é só barulho”. Este ir ao encontro dos interesses
dos alunos é fundamental para que o professor consiga
fazer com que os alunos se interessem pelas matérias que
efectivamente pretende que eles aprendam. Concretamente,
Mrs. Louene procura levar os alunos a fazerem
essa transferência de interesses através do concurso
“Dylan-Dylan”. Os vencedores deste concurso teriam
uma recompensa. Este é outro aspecto particularmente
relevante nas estratégias para motivação dos alunos
evidenciadas neste filme. Isto é, a utilização de recompensas
pode resultar numa fase inicial quando os alunos
apresentam uma motivação muito baixa para as actividades
escolares. No entanto, quando os alunos começam
a envolver-se nestas actividades, as estratégias
deverão ser diferentes, incentivando a sua motivação
intrínseca. Foi o que Mrs. Louene fez, pois numa situação
seguinte em que sugeriu aos alunos a realização de
uma tarefa escolar, quando um aluno lhe perguntou qual
era o prémio por realizarem essa actividade, ela respondeu:
“aprenderem a ler e compreenderem é o
prémio”. Depois fundamenta esta posição utilizando um
exemplo e uma linguagem compreensível para os alunos:
o cérebro é como um músculo e, tal como eles correrão
melhor e mais depressa se treinarem a corrida, também
poderão usar melhor o pensamento se aprenderem as
matérias escolares (“Cada nova ideia constrói um novo
músculo. São esses músculos que vos podem tornar
poderosos. São as vossas armas. E neste mundo inseguro
têm que andar armados”). Além disso, acentua o facto
de os alunos terem que ir à escola e já que assim é devem
aproveitar para aprender (“Tentem. De qualquer forma
já estão aqui. Se no fim do período não forem mais
rápidos, fortes e espertos não perderam nada. Mas se isso
acontecer vão ser mais díficeis de derrubar”). É também
particularmente interessante a forma como Mrs. Louene
contacta os pais de um aluno suspenso, procurando-os
para evidenciar o potencial e as qualidades positivas
do seu filho, contribuindo para a criação de “laços”
afectivos também com as famílias. Assim, também sobre
a forma de abordar e chamar as famílias a participar no
processo de educação e de desenvolvimento dos seus
filhos, pela positiva e em colaboração e sintonia com os
professores, Mrs. Louene constitui um bom exemplo.
Em conjunto, estes três filmes ilustram que as aulas
tanto podem ser “chatas” ou “uma perda de tempo”,
como interessantes, evidenciando a importância da motivação
dos professores para o seu próprio sucesso e
realização profissional e também para a motivação dos
alunos. No entanto, não há receitas, devendo cada professor
descobrir o seu caminho, tendo em conta as suas
Estratégias para motivar os alunos 29
Educação, Porto Alegre, v. 31, n. 1, p. 21-29, jan./abr. 2008
experiência e qualidades pessoais, “fazendo uso de si
mesmo como instrumento” (COMBS, BLUME, NEWMAN
e WASS, 1979).
Os professores são diferentes e devem aceitar essa
diferença com naturalidade, tentando aproveitá-la na sua
prática pedagógica. As diferenças manifestam-se na
própria interpretação dos acontecimentos, quanto mais
na forma de actuação. Por exemplo, face à mesma
situação, “um aluno ri na sala de aula”, diferentes
professores podem apresentar interpretações diferentes
como sejam: “aquele aluno está a gozar comigo, vou
repreendê-lo”; “aquele aluno está satisfeito, deve ter
entendido a explicação que estou a dar”; “alguém deve
ter-lhe contado alguma coisa engraçada”; “aquele aluno
ri sem razão, deve ter algum problema psicológico”.
Não há um perfil universal de “bom professor”, tal
como não há um perfil de “líder universal”. Por exemplo,
o Modelo Situacional de Liderança, de Blanchard,
Zigarmi e Zigarmi (1986), considera que o estilo de
liderança mais adequado depende do grau de competência
e de motivação dos sujeitos que o líder pretende
influenciar. Neste sentido, distingue entre quatro estilos
de liderança: direcção, orientação, apoio e delegação. Na
sala de aula, a adequação e eficácia do estilo a adoptar
pelo professor também depende muito dos alunos e,
inclusivamente, diferentes alunos preferem diferentes
estilos de professor. Numa investigação realizada por
Villa (1985), em que distinguiu sete tipos de professor –
o didáctico (pela clareza da explicação), o organizado
(pela metodologia utilizada), o dominante (pela exigência),
o fisico (pela aparência), o cordial (pelo humor),
o afectivo (pela atenção personalizada) e o entusiasta
(pela motivação expressa) – verificou-se que todos
os tipos são considerados importantes pelos alunos,
consoante o estilo do próprio aluno, o seu nível de ensino
e as situações concretas. Inclusivamente, o mesmo aluno
pode preferir um estilo de professor num dado momento
e outro estilo noutro momento do mesmo ano lectivo.
Por exemplo, os estilos cordial e afectivo podem ser mais
valorizados no início do ano lectivo, enquanto os estilos
didáctico e organizado podem ser preferidos mais no
final do ano lectivo ou na proximidade de situações de
avaliação de conhecimentos.
O que é importante é o professor ter uma perspectiva
global das hipóteses de trabalho ou estratégias possíveis
para poder decidir por aquela que considere mais adequada
num determinado momento, em sintonia com o
seu estilo pessoal e as situações com que se confronta.
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