Ezra Pound
Os Cantos
Trad. José Lino Grünewald
CANTO 1
E pois com a nau no mar,
Assestamos a quilha contra as vagas
E frente ao mar divino içamos vela
No mastro sobre aquela nave escura,
Levamos as ovelhas a bordo e
Nossos corpos também no pranto aflito,
E ventos vindos pela popa nos
Impeliam adiante, velas cheias,
Por artifício de Circe,
A deusa benecomata.
Assim no barco assentados
Cana do leme sacudida em vento
Então com vela tensa, pelo mar
Fomos até o término do dia.
Sol indo ao sono, sombras sobre o oceano
Chegamos aos confins das águas mais profundas.
Até o território cimeriano,
E cidades povoadas envolvidas
Por um denso nevoeiro, inacessível
Ao cintilar dos raios do sol, nem a
O luzir das estrelas estendido,
Nem quando torna o olhar do firmamento
Noite, a mais negra sobre os homens fúnebres.
Refluindo o mar, chegamos ao local
Premeditado por Circe.
Aqui os ritos de Perímedes e Euríloco e
“De espada a cova cubital escavo
Vazamos libações a cada morto,
Primeiro o hidromel, depois o doce
Vinho mais água com farinha branca
E orei pela cabeça dos finados;
Em Ítaca, os melhores touros estéreis
Para imolar, cercada a pira de oferendas,
Um carneiro somente de Tirésias,
Carneiro negro e com guizos.
Sangue escuro escoou dentro do fosso,
Almas vindas do Erebus, mortos cadavéricos,
De noivas, jovens, velhos, que muito penaram;
Úmidas almas de recentes lágrimas,
Meigas moças, muitos homens
Esfolados por lanças cor de bronze,
Desperdício de guerra, e com armas em sangue
Eles em turba em torno de mim, a gritar,
Pálido, reclamei-lhes por mais bestas;
Massacraram os rebanhos, ovelhas sob lanças;
Entornei bálsamos, clamei aos deuses,
Plutão, o forte, e celebrei Prosérpina;
Desembainhada a diminuta espada,
Fiquei para afastar a fúria dos defuntos,
Até que ouvisse Tirésias.
Mas primeiro veio Elpenor, o amigo Elpenor,
Insepulto, jogado em terra extensa.
Membros que abandonamos em casa de Circe,
Sem agasalho ou choro no sepulcro,
Já porque outras labutas nos urgiam.
Triste espírito. E eu gritei em fala rápida:
‘‘Elpenor, como veio a esta praia escura
Veio a pé, mais veloz que os marinheiros?”
E ele, taciturno:
Azar e muito vinho. Adormeci
Na morada de Circe ao pé do fogo.
Descendo a escadaria distraído
Desabei sobre a pilastra,
Com o nervo da nuca estraçalhado
O espírito procurou o Avernus.
Mas, ó Rei, me lembre, eu peço,
E sem agasalho ou choro,
Empilhe minhas armas numa tumba
A beira—mar com esta gravação:
Um homem sem fortuna e com um nome a vir.
E finque o remo que eu rodava entre os amigos
lá, ereto, sobre a tumba.”
Veio Anticléia, a quem eu, repelia,
E então Tirésias tebano,
Levando o seu bastão de ouro, viu —me
E falou primeiro:
“Uma segunda vez? Por quê? homem de maus fados,
Face aos mortos sem sol e este lugar sem gáudio?
Além do fosso! eu vou sorver o sangue
Para a profecia.”
E eu retrocedi,
E ele, vigor sangüíneo: “Odysseus
Deverás retornar por negros mares
Através dos rancores de Netuno,
Todos teus companheiros perderás.
Depois veio Anticléia.
Divus, repouse em paz, digo, Andreas Divus,
In ofiicina Wecheli, 1538, vindo de Homero.
E ele velejou entre Sereias ao
largo e além até Circe.
Venerandam,
Na frase em Creta, e áurea coroa, Afrodite,
Cypri munimenta sortita est, alegre, orichalchi, com dourados
Cintos, faixas nos seios, tu, com pálpebras de ébano
Levando o ramo de ouro de Argicida.
ENVOI (1919)
Vai, livro natimudo,
E diz a ela
Que um dia me cantou essa canção de Lawes:
Houvesse em nós
Mais canção, menos temas,
Então se acabariam minhas penas,
Meus defeitos sanados em poemas
Para fazê-la eterna em minha voz
Diz a ela que espalha
Tais tesouros no ar,
Sem querer nada mais além de dar
Vida ao momento,
Que eu lhes ordenaria: vivam,
Quais rosas, no âmbar mágico, a compor,
Rubribordadas de ouro, só
Uma substância e cor
Desafiando o tempo.
Diz a ela que vai
Com a canção nos lábios
Mas não canta a canção e ignora
Quem a fez, que talvez uma outra boca
Tão bela quanto a dela
Em novas eras há de ter aos pés
Os que a adoram agora,
Quando os nossos dois pós
Com o de Waller se deponham, mudos,
No olvido que refina a todos nós,
Até que a mutação apague tudo
Salvo a Beleza, a sós.
(tradução de Augusto de Campos)
E ASSIM EM NÍNIVE
"Sim! Sou um poeta e sobre minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.
"Veja! não cabe a mim
Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Nínive já observei
Mais de um cantor passar e ir habitar
O horto sombrio onde ninguém perturba
Seu sono ou canto.
E mais de um cantou suas canções
Com mais arte e mais alma do que eu;
E mais de um agora sobrepassa
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu sou poeta e sobre minha tumba
Todos os homens hão de espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.
"Não é, Ruaana, que eu soe mais alto
Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho."
(tradução de Augusto de Campos)
Canto III
Another's a half-cracked fellow—John Heydon,
Worker of miracles, dealer in levitation,
In thoughts upon pure form, in alchemy,
Seer of pretty visions ("servant of God and secretary of nature");
Full of plaintive charm, like Botticelli's,
With half-transparent forms, lacking the vigor of gods.
Thus Heydon, in a trance, at Bulverton,
Had such a sight:
Decked all in green, with sleeves of yellow silk
Slit to the elbow, slashed with various purples.
Her eyes were green as glass, her foot was leaf-like.
She was adorned with choicest emeralds,
And promised him the way of holy wisdom.
"Pretty green bank," began the half-lost poem.
Take the old way, say I met John Heydon,
Sought out the place,
Lay on the bank, was "plungèd deep in swevyn;"
And saw the company—Layamon, Chaucer—
Pass each in his appropriate robes;
Conversed with each, observed the varying fashion.
And then comes Heydon.
"I have seen John Heydon."
Let us hear John Heydon!
"Omniformis
Omnis intellectus est"—thus he begins, by spouting half of Psellus.
(Then comes a note, my assiduous commentator:
Not Psellus De Daemonibus, but Porphyry's Chances,
In the thirteenth chapter, that "every intellect is omni-form.")
Magnifico Lorenzo used the dodge,
Says that he met Ficino
In some Wordsworthian, false-pastoral manner,
And that they walked along, stopped at a well-head,
And heard deep platitudes about contentment
From some old codger with an endless beard.
"A daemon is not a particular intellect,
But is a substance differed from intellect,"
Breaks in Ficino,
"Placed in the latitude or locus of souls"—
That's out of Proclus, take your pick of them.
Valla, more earth and sounder rhetoric—
Prefacing praise to his Pope Nicholas:
"A man of parts, skilled in the subtlest sciences;
A patron of the arts, of poetry; and of a fine discernment."
Then comes a catalogue, his jewels of conversation.
No, you've not read your Elegantiae—
A dull book?—shook the church.
The prefaces, cut clear and hard:
"Know then the Roman speech, a sacrament,"
Spread for the nations, eucharist of wisdom,
Bread of the liberal arts.
Ha! Sir Blancatz,
Sordello would have your heart to give to all the princes;
Valla, the heart of Rome,
Sustaining speech, set out before the people.
"Nec bonus Christianus ac bonus
Tullianus."
Marius, Du Bellay, wept for the buildings,
Baldassar Castiglione saw Raphael
"Lead back the soul into its dead, waste dwelling,"
Corpore laniato; and Lorenzo Valla,
"Broken in middle life? bent to submission?—
Took a fat living from the Papacy"
(That's in Villari, but Burckhardt's statement is different)—
"More than the Roman city, the Roman speech"
(Holds fast its part among the ever-living).
"Not by the eagles only was Rome measured."
"Wherever the Roman speech was, there was Rome,"
Wherever the speech crept, there was mastery
Spoke with the law's voice while your Greek, logicians...
More Greeks than one! Doughty's "divine Homeros"
Came before sophistry. Justinopolitan
Uncatalogued Andreas Divus,
Gave him in Latin, 1538 in my edition, the rest uncertain,
Caught up his cadence, word and syllable:
"Down to the ships we went, set mast and sail,
Black keel and beasts for bloody sacrifice,
Weeping we went."
I've strained my ear for -ensa, -ombra, and -ensa
And cracked my wit on delicate canzoni—
Here's but rough meaning:
"And then went down to the ship, set keel to breakers,
Forth on the godly sea;
We set up mast and sail on the swarthy ship,
Sheep bore we aboard her, and our bodies also
Heavy with weeping. And winds from sternward
Bore us out onward with bellying canvas—
Circe's this craft, the trim-coifed goddess.
Then sat we amidships, wind jamming the tiller.
Thus with stretched sail
We went over sea till day's end:
Sun to his slumber, shadows o'er all the ocean.
Came we then to the bounds of deepest water,
To the Kimmerian lands and peopled cities
Covered with close-webbed mist, unpiercèd ever
With glitter of sun-rays,
Nor with stars stretched, nor looking back from heaven,
Swartest night stretched over wretched men there.
Thither we in that ship, unladed sheep there,
The ocean flowing backward, came we through to the place
Aforesaid by Circe.
Here did they rites, Perimedes and Eurylochus,
And drawing sword from my hip
I dug the ell-square pitkin, poured we libations unto each the dead,
First mead and then sweet wine,
Water mixed with white flour.
Then prayed I many a prayer to the sickly death's-heads
As set in Ithaca, sterile bulls of the best,
For sacrifice, heaping the pyre with goods.
Sheep, to Tiresias only,
Black, and a bell sheep;
Dark blood flowed in the fosse.
Souls out of Erebus, cadaverous dead
Of brides, of youths, and of many passing old,
Virgins tender, souls stained with recent tears,
Many men mauled with bronze lance-heads,
Battle spoil, bearing yet dreary arms:
These many crowded about me,
With shouting, pallor upon me, cried to my men for more beasts;
Slaughtered the herds—sheep slain of bronze,
Poured ointment, cried to the gods,
To Pluto the strong, and praised Proserpine.
Unsheathed the narrow steel,
I sat to keep off the impetuous, impotent dead
Till I should hear Tiresias.
But first Elpenor came, our friend Elpenor,
Unburied, cast on the wide earth—
Limbs that we left in the house of Circe,
Unwept, unwrapped in sepulchre, since toils urged other,
Pitiful spirit—and I cried in hurried speech:
'Elpenor, how art thou come to this dark coast?
Cam'st thou afoot, outstripping seamen?' And he in heavy speech:
'Ill fate and abundant wine! I slept in Circe's ingle,
Going down the long ladder unguarded, I fell against the buttress,
Shattered the nape-nerve, the soul sought Avernus.
But thou, O King, I bid remember me, unwept, unburied!
Heap up mine arms, be tomb by the sea-board, and inscribed,
A man of no fortune and with a name to come;
And set my oar up, that I swung 'mid fellows.'
Came then another ghost, whom I beat off, Anticlea,
And then Tiresias, Theban,
Holding his golden wand, knew me and spoke first:
'Man of ill hour, why come a second time,
Leaving the sunlight, facing the sunless dead and this joyless region?
Stand from the fosse, move back, leave me my bloody bever,
And I will speak you true speeches.'
"And I stepped back,
Sheathing the yellow sword. Dark blood he drank then
And spoke: 'Lustrous Odysseus, shalt
Return through spiteful Neptune, over dark seas,
Lose all companions.' Foretold me the ways and the signs.
Came then Anticlea, to whom I answered:
'Fate drives me on through these deeps; I sought Tiresias.'
I told her news of Troy, and thrice her shadow
Faded in my embrace.
Then had I news of many faded women—
Tyro, Alcmena, Chloris—
Heard out their tales by that dark fosse, and sailed
By sirens and thence outward and away,
And unto Circe buried Elpenor's corpse."
Lie quiet, Divus.
In Officina Wechli, Paris,
M. D. three X's, Eight, with Aldus on the Frogs,
And a certain Cretan's
Hymni Deorum:
(The thin clear Tuscan stuff
Gives way before the florid mellow phrase.)
Take we the Goddess, Venus:
Venerandam,
Aurean coronam habentem, pulchram,
Cypri munimenta sortita est, maritime,
Light on the foam, breathed on by zephyrs,
And air-tending hours. Mirthful, orichalci<.i>, with golden
Girdles and breast bands.
Thou with dark eye-lids,
Bearing the golden bough of Argicida.
Source: Poetry (July 1917).
SAUDAÇÃO
Oh geração dos afetados consumados
e consumadamente deslocados,
Tenho visto pescadores em piqueniques ao sol,
Tenho-os visto, com suas famílias mal-amanhadas,
Tenho visto seus sorrisos transbordantes de dentes
e escutado seus risos desengraçados.
E eu sou mais feliz que vós,
E eles eram mais felizes do que eu;
E os peixes nadam no lago
e não possuem nem o que vestir.
(tradução de Mário Faustino)
SAUDAÇÃO SEGUNDA
Fostes louvados, meus livros,
porque eu acabara de chegar do interior;
Eu estava atrasado vinte anos
e por isso encontrastes um público preparado.
Não vos renego,
Não renegueis vossa progênie.
Aqui estão eles sem rebuscados artifícios,
Aqui estão eles sem nada de arcaico.
Observai a irritação geral:
"Então é isto", dizem eles, "o contra-senso
que esperamos dos poetas?"
"Onde está o Pitoresco?"
"Onde a vertigem da emoção?"
"Não ! O primeiro livro dele era melhor."
"Pobre Coitado ! perdeu as ilusões."
Ide, pequenas canções nuas e impudentes,
Ide com um pé ligeiro !
(Ou com dois pés ligeiros, se quiserdes !)
Ide e dançai despudoradamente !
Ide com travessuras impertinentes !
Cumprimentai os graves, os indigestos,
Saudai-os pondo a língua para fora.
Aqui estão vossos guisos, vossos confetti.
Ide ! rejuvenescei as coisas !
Rejuvenescei até The Spectator.
Ide com vaias e assobios !
Dançai a dança do phallus
contai anedotas de Cibele !
Falai da conduta indecorosa dos Deuses !
Levantai as saias das pudicas,
falai de seus joelhos e tornozelos.
Mas sobretudo, ide às pessoas práticas -
Dizei-lhes que não trabalhais
e que viverei eternamente.
(tradução de Mário Faustino)
TENZONE
Será que as aceitarão ?
(i.é., estas canções).
como tímida fêmea perseguida por centauros
(ou por centuriões),
Elas já vão fugindo, urrando de terror.
Ficarão comovidos pelas verossimilitudes ?
Sua estupidez é virgem, é inviolável.
Eu vos imploro, meus críticos amistosos,
Não saiais por aí procurando-me um público.
Deito-me com quem é livre em cima dos penhascos;
os recessos ocultos
Já têm ouvido o eco de meus calcanhares
na frescura da luz
e na escuridão.
(tradução de Mário Faustino)
CINO
Arre! Já celebrei mulheres em três cidades,
Mas é tudo a mesma coisa;
E cantarei ao sol.
Lábios, palavras, e lhes armamos armadilhas,
Sonhos, palavras, e são como jóias,
Estranhos bruxedos de velha divindade,
Corvos, noites, carícia:
E eis que não o são;
Já se tornaram almas de canção.
Olhos, sonhos, lábios, e a noite vai-se.
Em plena estrada, uma vez mais,
Elas não são.
Esquecidas, em suas torres, de nossa toada,
Uma vez por causa do vento, da revoada
Sonham rumo de nós e
Suspirando dizem, "Ah, se Cino,
Apaixonado Cino, o de olhos enrugados,
Alegre Cino, de riso rápido.
Cino ousado, Cino zombeteiro,
Frágil Cino, o mais forte de seu clã bandoleiro
Que bate as velhas vias sob o sol,
Se Cino do alaúde aqui voltasse!"
Uma vez, duas vezes, um ano -
E vagamente assim se exprimem:
"Cino ?" "Oh, eh, Cino Polnesi
O cantor, não é dele que se trata ?"
"Ah, sim, passou uma vez por aqui,
Sujeito atrevido, mas...
(São todos a mesma coisa, esses vagabundos)
Peste! As canções eram dele ?
Ou cantava as dos outros ?
Mas e o senhor, Meu Senhor, como vai sua cidade ?"
Mas e senhor, "Meu Senhor", bá! por piedade!
E todos os que eu conhecia estavam fora, Meu Senhor, e tu
Eras Cino-Sem-Terra, tal como eu sou,
O Sinistro.
Já celebrei mulheres em três cidades.
Mas é tudo a mesma coisa.
E cantarei do sol.
...eh?... a maioria delas tinha olhos cinzentos,
Mas é tudo a mesma coisa, e cantarei do sol.
"Pollo Phoibeu, panela velha, tu,
Glória da égide do Zeus do dia,
Escudo d'azul aço, o céu lá em cima
Tem por chefe tua rútila alegria!
Pollo Phoibeu, ao longo do caminho,
Faze do teu riso nossa chanson;
Que teu fulgor ofusque nossa dor,
E que o choro da chuva tombe sem som!
Buscando sempre o rastro recente
Rumo aos jardins do sol...
..............................................
Já celebrei mulheres em três cidades
Mas é tudo a mesma coisa.
E cantarei das aves alvas
Nas águas azuis do céu,
As nuvens, o borrifo de seu mar.
(tradução de Mário Faustino)
Canto
81
O que amas
de verdade permanece,
o resto é escória.
O que amas de verdade não te será arrancado
O que amas de verdade é tua herança verdadeira
Mundo de quem, meu ou deles
Ou não é de ninguém?
Veio o visível primeiro, depois o palpável
Elísio, ainda que fosse nas câmaras do inferno,
O que amas de verdade é tua herança verdadeira
O que amas de verdade não te será arrancado
A formiga é um centauro em seu mundo de dragões.
Abaixo tua vaidade, nem coragem
Nem ordem, nem graça são obras do homem,
Abaixo tua vaidade, eu digo abaixo.
Aprende com o mundo verde o teu lugar
Na escala da invenção ou arte verdadeira,
Abaixo tua vaidade,
Paquim, abaixo!
O elmo verde superou tua elegância.
“Domina-te e os outros te suportarão”
Abaixo tua vaidade
Tu és um cão surrado e largado ao granizo,
Uma pega inchada sob um sol instável,
Metade branca, metade negra
E confundes a asa com a cauda
Abaixo tua vaidade
Que mesquinhos os teus ódios
Nutridos na mentira,
Abaixo tua vaidade
Ávido em destruir, avaro em caridade,
Abaixo tua vaidade,
Eu digo abaixo.
Mas ter feito em lugar de não fazer
isto não é vaidade
Ter, com decência, batido
Para que um Blunt abrisse
ter colhido no ar a tradição mais viva
Ou num belo olho antigo a flama inconquistada
Isto não é vaidade.
Aqui o erro todo consiste em não ter feito.
Todo: na timidez que vacilou.
Ezra Pound,Cantos
(Tradução conjunta: Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari)
o resto é escória.
O que amas de verdade não te será arrancado
O que amas de verdade é tua herança verdadeira
Mundo de quem, meu ou deles
Ou não é de ninguém?
Veio o visível primeiro, depois o palpável
Elísio, ainda que fosse nas câmaras do inferno,
O que amas de verdade é tua herança verdadeira
O que amas de verdade não te será arrancado
A formiga é um centauro em seu mundo de dragões.
Abaixo tua vaidade, nem coragem
Nem ordem, nem graça são obras do homem,
Abaixo tua vaidade, eu digo abaixo.
Aprende com o mundo verde o teu lugar
Na escala da invenção ou arte verdadeira,
Abaixo tua vaidade,
Paquim, abaixo!
O elmo verde superou tua elegância.
“Domina-te e os outros te suportarão”
Abaixo tua vaidade
Tu és um cão surrado e largado ao granizo,
Uma pega inchada sob um sol instável,
Metade branca, metade negra
E confundes a asa com a cauda
Abaixo tua vaidade
Que mesquinhos os teus ódios
Nutridos na mentira,
Abaixo tua vaidade
Ávido em destruir, avaro em caridade,
Abaixo tua vaidade,
Eu digo abaixo.
Mas ter feito em lugar de não fazer
isto não é vaidade
Ter, com decência, batido
Para que um Blunt abrisse
ter colhido no ar a tradição mais viva
Ou num belo olho antigo a flama inconquistada
Isto não é vaidade.
Aqui o erro todo consiste em não ter feito.
Todo: na timidez que vacilou.
Ezra Pound,Cantos
(Tradução conjunta: Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari)
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