segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Marx: PREFÁCIO AOS MANUSCRITOS ECONÔMICOS E FILOSÓFICOS
Karl Marx
Já anunciei, no Deutsch-Franzoesischer Jahrbücher , uma crítica do Direito e da
Ciência Política sob a forma de crítica à filosofia hegeliana do Direito.
Entretanto, ao preparar o trabalho a ser publicado, ficou evidente que seria
assaz inconveniente uma combinação da crítica dirigida somente à teoria
especulativa com a crítica de vários assuntos; isso tolheria a exposição da
argumentação e tornaria esta mais difícil de ser acompanhada. Ademais, eu só
poderia comprimir tal riqueza e diversidade de assuntos em um único livro se
escrevesse em estilo aforismático, e uma apresentação assim aforismática daria a
impressão de sistematização arbitrária. Por conseguinte, publicarei minha
crítica do Direito, Moral, Política, etc., em diversos opúsculos separados, e,
por fim, tentarei, em uma obra a parte, apresentar o conjunto inter-relacionado,
mostrando as relações entre as várias partes e apresentando uma crítica do
tratamento especulativo desse material. É por isso que, no presente trabalho, as
relações da Economia Política com o Estado, o Direito, a Moral, a vida civil,
etc., são apenas abordadas na medida em que a própria Economia Política trata
desses assuntos.
Não é necessário assegurar ao leitor familiarizado com a Economia Política que
minhas conclusões são o fruto de uma análise inteiramente empírica, baseadas em
um meticuloso estudo crítico da Economia Política.
É claro que além de aos socialistas franceses e ingleses também recorri a
trabalhos de socialistas alemães. Mas as obras alemães originais e importantes a
este respeito - fora as de Weitling - limitam-se aos ensaios publicados por Hess
no Einundzwanzib Bogen , e ao de Engels, "Umrisse zur Kritik der
Nationaloekonomie" no Deutsch-Franzoesischer Jahrbücher. Nesta última
publicação, eu mesmo indiquei, de forma bastante genérica, os elementos básicos
do presente trabalho.
A crítica positiva, humanista e naturalista tem início com Feuerbach. Os
trabalhos menos espetaculares de Feuerbach são os mais certos, profundos,
extensos e duradouros em sua influência; eles são os únicos, desde a
Fenomenologia e a Lógica de Hegel que contêm uma verdadeira revolução teórica.
Ao contrário dos teólogos críticos de nossa época, considerei o capítulo final
do presente trabalho, uma exposição crítica da dialética hegeliana e de sua
filosofia geral, como absolutamente essencial, pois isso ainda não foi feito.
Esta falta de meticulosidade não é acidental, pois o teólogo crítico continua a
ser um teólogo. Ele tem de partir, seja de certos pressupostos da filosofia
aceita como oficial, ou então, se no decurso da crítica e como resultado de
descobertas de outras pessoas surgirem-lhe na mente dúvidas acerca dos
pressupostos filosóficos, abandona-os de forma covarde e sem justificativa,
abstrai a partir deles, e demonstra ao mesmo tempo dependência servil face a
elas e seu ressentimento a essa dependência de maneira negativa, inconsciente e
sofística.
Olhada mais de perto, a crítica teológica, que foi no começo do movimento um
fator genuinamente progressista, é vista como sendo, em última análise, nada
mais que a culminação e conseqüência do antigo transcendentalismo filosófico, e
especialmente hegeliano, deformado numa caricatura teológica. Descreverei
alhures, com maior minúcia, esse ato interessante de justiça histórica, essa
nêmese que agora destina a teologia, sempre o setor infectado da filosofia, a
espelhar em si a mesma dissolução negativa da filosofia, isto é, o processo de
sua decadência.
Karl Marx, 1844
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